quarta-feira, 18 de abril de 2018

Análise literária da obra: A Metamorfose Franz Kafka

Olá, tudo bem com você?

Entendo não ser fácil para você, que está se preparando para prestar vestibular, conseguir ler e apreender, nada mais nada menos, que nove obras literárias. É por isso que me dedico a organizar os melhores matérias, marcar as partes importantes, aquelas que podem cair na prova, para facilitar a sua vida!

Leia, estude e se gostar deixa um comentário no final, só para eu saber se meu trabalho valeu a pena pra você ok?

Boa leitura!

Grande abraço!





Sinopse

A novela publicada em 1915 é uma narrativa fantástica em que o personagem central, Gregor Samsa, ao despertar certa manha, "depois de um sono intranquilo, achou-se em sua cama convertido em um monstruoso inseto". Depois desse começo abrupto, a historia se desenvolve em torno das mudanças de comportamento que Gregor observa em si e na sua família. (Fonte Edição de Bolso da Saraiva)

Resumo e análise da obra

Gregor Samsa era o filho que sustentava a casa, seus pais mais avançados em idade e de saúde mediana dependiam inteiramente do jovem, assim como sua irma mais nova Grete (a violinista). Um dia Gregor acorda transformado em um bicho misterioso, tudo indica um inseto, e não vai trabalhar, com isso todos dirigem-se para o quarto e chamam por ele, ate o chefe de Gregor aparece (o que já da indícios de como ele era explorado em seu serviço de caixeiro-viajante) … Quando descobrem o ocorrido com o filho todos se apavoram, mas com o passar do tempo buscam formas alternativas de suplantar as dificuldades – com isso os que antes eram incapazes de trabalhar tornam-se trabalhadores (o pai, a mãe e ate mesmo a irmã).

Cuidar do inseto torna-se um fardo `a família que passa a despreza-lo, a irmã já não quer mais limpar o quarto do irmão, nem ligam se ele esta comendo ou não, e nem tentam manter alguma comunicação com ele. Isso torna-se muito doloroso para Gregor que tem consciência de sua situação perante os seus e perante a sociedade. 

Em muitos momentos ele se enfurece e se entristece com o que vive, e ocorrem cenas marcantes como quando Gregor vai ouvir a irma tocando violino e esta fica muito nervosa com sua presença na sala, grita e pede ao pai que o expulse. Este lança varias maçãs contra o filho, que sente as feridas tanto físicas quanto emocionais de se ver repelido por todos. (Eu realmente achei essa parte a mais triste e chocante do livro. Não direi o final da historia para que aqueles com curiosidade leiam a obra e depois reflitam sobre a mensagem que ela transmite).

… quando nesse momento alguma coisa, atirada de leve, voou bem ao seu lado e rolou diante dele. Era uma maça; a segunda passou voando logo em seguida por cima dele. Gregor ficou paralisado de susto; continuar correndo era inútil, pois o pai tinha decidido bombardeá-lo. Da fruteira em cima do bufê, ele havia enchido os bolsos de maçãs e, por enquanto, sem mirar direito, as atirava uma a uma. As pequenas maçãs vermelhas rolavam como que eletrizadas pelo chão e batiam umas nas outras. Uma maçã atirada sem força raspou as costas de Gregor, mas escorregou sem causar danos. Uma que logo se seguiu, pelo contrário, literalmente penetrou nas costas dele. Gregor quis continuar se arrastando, como se a dor, surpreendente e inacreditável, pudesse passar com a mudança de lugar; mas ele se sentia como se estivesse pregado no chão e esticou o corpo numa total confusão de todos os sentidos…”

Assim, o livro A Metamorfose explora a solidão, os sentimentos de exclusão e as crises do homem contemporâneo, sendo uma referência da literatura universal para se abordar com profundidade aspectos sociais. Nele estão destacadas as contradições que envolvem as relações humanas – pois quando a família descobre a transformação vivenciada por Samsa, ele passa a ser desprezível e deve ser eliminado. 

A impotência de Samsa, por exemplo, perante ações que antes lhe eram rotineiras como sair da cama ou caminhar, faz uma alusão às fraquezas humanas diante de pressões sociais. O livro denuncia como a sociedade atual capitalista restringe o valor do ser humano ao que ele produz e às aparências – uma nítida associação do ser a um produto que pode ser substituído como uma máquina ou algo semelhante. 

A obra foi escrita em 1912, dois anos antes do início da Primeira Guerra Mundial. O clima de agonia e pessimismo mantido por Kafka é apontado por alguns autores como relação direta com o cenário mundial da época em que a obra foi escrita.

Apesar de ter sido escrita no início do século XX, a obra permanece atual porque explora temas característicos da sociedade contemporânea, como a crise existencial, a desesperança do ser, pessimismo, a ausência de resposta, a solidão, impotência e a fuga. 


 Uma manhã, ao despertar de sonhos inquietantes, Gregor Samsa deu por si na cama transformado num gigantesco inseto.

É assim que Kafka inicia a história de Gregor Samsa, um caixeiro-viajante que deixou de ter vida própria para suportar financeiramente todas as despesas da família. Numa manhã, ao acordar para o trabalho, Gregor vê que se transformou num inseto horrível com um "dorso duro e inúmeras pequenas patas". A princípio, as suas preocupações passam por pensamentos práticos relacionados com a sua metamorfose, principalmente com o fato de estar atrasado para o trabalho. Depois, as preocupações passam para um nível psicológico e sentimental. Gregor sente-se magoado pela repulsa dos pais à sua metamorfose. Apenas a irmã se digna a levarlhe alimento, mas mesmo assim repulsa e medo de sua parte também se manifestam.
A leitura da narrativa da Metamorfose instiga sensações e impressões que variam de uma tomada de interesse completo a um asco, uma aversão e, por vezes, uma perturbadora presença do humor – como observou Brod em 1913: - que, mesmo após findada a leitura, não deixa o leitor, pois várias perguntas permanecem ali sem resposta, diversas inquietações e muitas lacunas a serem preenchidas.


A primeira questão digna de atenção é na realidade o cerne do livro, mas que em nenhum momento é posta em pauta: o porquê da metamorfose de Gregor Samsa. Em nenhum momento o protagonista se pergunta o motivo que terá desencadeado o seu processo transformatório de homem em inseto. Talvez, se tivesse refletido sobre essa questão – na realidade um questionamento básico e óbvio em processos bruscos de mudança - pudesse ele não reverter o quadro de sua situação, mas ao menos entendê-la melhor, sendo capaz de aprender, crescer, amadurecer e mudar.

A leitura da obra kafkiana requer uma atenção especial à sua linguagem protocolar e à forma de construção textual, sem o qual o autor não teria atingido o estranhamento intrínseco e característico que a constrói.

Pelo fato de ter estudado tanto Direito quanto Germanística e também de ter trabalhado no meio jurídico, Kafka tinha consciência de que, para atingir o estranhamento que lhe é peculiar, causando a estranheza no leitor, e também para ser capaz de exprimir uma agonia contínua em suas narrativas, a opção por uma linguagem de forma protocolar (burocrática) era a melhor a ser utilizada. Entretanto urge destacar que essa linguagem era por ele adotada somente nas obras que escrevia com caráter impessoal. Sua Carta ao Pai, por exemplo, que foi escrita não no intuito de uma futura publicação, mas sim verdadeiramente para ser lida por seu pai, apresenta uma linguagem íntima e pessoal (sendo escrita em alemão, língua que era também falada no seio familiar), em nada protocolar. Ou seja, o "protocolar" fazia parte de sua arte, não sendo uma característica comum e cotidiana de sua fala e escrita pessoais e, como bem enfatiza Anders, em Kafka "não existem, propriamente, diferenças entre as linguagens dos tolos, dos inteligentes, dos grandes ou dos pequenos. É natural que tal linguagem da distância exclua determinados tons (...)" (Anders, 1969, p. 72). Logo, a escrita literária de Kafka, por ser protocolar, é marcada por seu tom desapegado, imparcial e impessoal, atentando ao menor detalhe e abrangendo os temas de alienação e perseguição, sendo, entretanto, sempre a culpa o motor constante.

Os seus contos são julgados como verdadeiros e realistas, pois os personagens kafkianos sofrem de conflitos existenciais, como o homem de hoje. No mundo kafkiano, os personagens não sabem que rumo podem tomar, ignoram os objetivos da sua vida, questionam seriamente a existência e acabam sós, diante de uma situação que não planejaram, pois todos os acontecimentos se viraram contra eles. Por isso, a temática da solidão como fuga, a paranoia e os delírios de influência estão muito ligados à obra kafkiana.

Muitos críticos tendem a analisar os trabalhos de Kafka partindo primeiramente de uma base biográfica e comparam suas obras com aspectos da vida pessoal e da psique do autor, além da influência da época histórica em que nasceu. Definem, assim, suas obras como meros espelhos de seus sentimentos e frustrações, ou uma forma de o autor "trabalhar" com eles, como uma auto-análise para entender-se e curar-se ou, pelo menos "pôr tudo para fora", desabafando seus mais íntimos sofrimentos com um público anônimo. "O que Kafka escreve é ele mesmo, o ser em si. Sua literatura é seu eu feito letra" (Backes, 2008). Essa forma de interpretação, embora se baseie em fatos coerentes e reais, e de forma alguma poder ser taxada como falsa ou errônea em si, encerra uma limitação e de certo modo simplicidade que não satisfazem de todo uma interpretação mais abrangente e filosófica, o que os textos kafkianos com certeza exigem.

Outra tentativa que se faz toma o caminho da colocação da questão social: ano 1912, véspera da Primeira Guerra Mundial; explosão do capitalismo através da industrialização; a Belle Époque francesa; um judeu nascido no leste europeu, falante de alemão, que estudou na Áustria e morava na Suíça... Um ser agnóstico vivendo numa religiosidade imposta e ao mesmo tempo um artista frustrado que não tinha a "permissão" paterna de florescer.

Todo esse contexto em que o então já confuso – e por isso mesmo frustrado e deprimido - Kafka vivenciava em seu meio, vendo sociedades mergulhadas em um capitalismo supérfluo, com crenças diversas, sem conseguir se adequar a nenhuma delas, são fortes argumentos para formas interpretativas desse cunho histórico/biográfico.

Poder-se-ia extrair também de sua "metamorfose" um estudo dialético do tema "trabalho", pois o trabalho, em qualquer forma de governo, é tema central e digno de debates, filosofias e enquadramentos. Ora, qual foi o principal efeito da metamorfose não só sobre Gregor, mas também sobre a família como um todo? Antes da transformação, Gregor literalmente vivia para e pelo trabalho, já seus familiares eram apenas seus parasitas, não produziam nada. Nas estranhas famílias de Kafka, o pai sobrevive às custas do filho, sugando-o como um imenso parasita. Não consome apenas suas forças, consome também seu direito de existir. Após o incidente, este é que passou a ser o parasita, o imprestável que não servia mais para trabalhar, e a família desabrochou para o mundo laboral. Aqui podiam tanto o capitalista quanto o marxista apontar o tema trabalho como a questão central kafkiana do livro e desenrolar longas teses de como Kafka se colocou a respeito desses temas sociais em sua obra.

Mas vamos pôr agora todas essas avaliações e interpretações de cunho biográfico, histórico, político e social de lado e tentar nos concentrar no que realmente importa: a história em si. Tentemos fazer uma análise da narrativa colocando de lado todos esses fatores. Esqueçamos por algum momento quem foi o autor, qual foi o ano e sob que circunstâncias foi produzido o texto em questão. O que nos resta? Uma história que se apresenta de forma surrealista, isto é, fantástica, mas que na realidade é bem realista, com várias facetas profundas a serem reconhecidas e inúmeras formas de ser interpretada, uma história atemporal que se encaixaria até mesmo nos dias de hoje.

Nenhum autor representou de forma tão contundente a modernidade. Segundo o crítico literário George Steiner, "o extremismo da posição literária de Kafka (...) torna a estrutura representativa e a centralidade de sua façanha mais notáveis. Nenhuma outra voz foi testemunha mais verdadeira da natureza de nossos tempos." (Steiner, 2003, p. 147). Temos aqui um homem (Gregor Samsa) que há muito não vive mais sua vida. Um homem que abdicou de ser quem era (ou poderia ter sido) para se dedicar somente ao trabalho. Mas trabalhar não por prazer ou dom, no sentido de realização do indivíduo, e sim de fato apenas para quitar uma dívida que nem sua era, mas sim de seu pai. Pai este que, após a ruína de seu negócio, não era mais "capaz", tornou-se praticamente um inválido, dependente do filho. Gregor, por sua vez, se via na obrigação de cumprir esse compromisso. Isso posto, fica clara para o leitor a situação que se estabelecerá ao longo dos cinco anos seguintes no âmbito familiar do protagonista: mãe doente, asmática, abatida, incapaz e dependente; pai doente, envelhecido, abatido, incapaz e dependente; irmã jovem, amedrontada, infantil, incapaz e dependente; Gregor: saudável, ativo, trabalhador, capaz. Mas todos infelizes.

Na realidade, Gregor não é um mero empregado que cumpre sua função. Muito pior que isso: ele é visivelmente um escravo de seu empregador, fato que estranhamente em nada incomoda seus pais. Esse fato passa ao leitor a impressão de que seus pais não o veem como um filho, um ser humano digno e merecedor de uma vida própria. E ele mesmo, Gregor, também não se vê assim – aqui ficam em aberto pontos para outras interpretações das causas desse anulamento do seu ser (pela visão marxista, seria este o anulamento do humano nas relações de trabalho, causado pela reificação do nosso mundo).


Após a metamorfose de Samsa, ponto principal e culminante, o clímax de toda a narrativa que é logo de início apresentada ao leitor, tudo muda não só para Gregor como para sua família. Mas analisemos primeiramente o fato em si: por que Gregor sofre esta mudança? Será que no seu íntimo era isso mesmo que queria, por ver nisso a única fuga (refúgio) possível dos seus tormentos e da sua vida miserável? Ou será que isso ocorre porque ele justamente há muito renegara sua própria existência como pessoa? Questionamentos que dificilmente poderemos responder, mas que são dignos de profunda reflexão.


A utilização de uma linguagem impessoal, ao mesmo tempo culta, mas de acesso e entendimento ao leitor comum, a forma de narração lenta e excessivamente descritiva, a atmosfera de suspense e agonia, é criada do início ao fim, tudo isso somado provoca um verdadeiro mergulho do leitor no mundo de Kafka. Este, ao mesmo tempo em que aproxima, diminuindo a distância entre o leitor e a obra, causa um forte estranhamento pelos acontecimentos bizarros e os comportamentos por vezes tão humanos que por vezes parecem desumanos. E o leitor, simultaneamente atento e curioso, mas com verdadeiros surtos de repulsa, aversão e incompreensão (tenta-se esquecer que Gregor virou um inseto repugnante e tenta-se vê-lo como homem), mesmo com tudo isso não consegue (e nem quer) largar o livro, pois ele, no seu íntimo, no âmago do seu ser, está como a apreciar um quadro divinamente pintado, de uma arte inigualável, que apesar de expressar uma sociedade execrável, dura, deplorável, distorcida e desumana, mostra o que a realidade na verdade é. E, citando Anders, "O espantoso, em Kafka, é que o espantoso não espanta ninguém." (Anders, 1969, p. 19). Esse é o paradoxo artístico crucial da obra kafkiana, que por sua eterna atemporalidade e arte as tornaram imortais.

A metamorfose de Gregor Samsa em um inseto seria uma simbologia, um tipo de metáfora, para representar o repentino surgimento de uma deficiência física e/ou mental do personagem em questão, trazendo então à tona na sua família e na sociedade o preconceito e a hipocrisia inerentes destas em relação a pessoas portadoras de alguma deficiência, que em geral são vistas com estranheza, desdém, medo e até mesmo aversão. Essa visão da metamorfose de Gregor (por exemplo, o surgimento de um tetraplegia) se encaixaria sem lacunas na narrativa, tanto pelo comportamento do seu empregador – que no mesmo momento quer apenas livrar-se do inseto – como dos integrantes de sua própria família, estendendo-se aos inquilinos dos quartos e até mesmo à empregada, que reconhece naquele ser algo sinistro e curioso de se apreciar. Essa forma de entender a obra seria bem aceitável, pois a realidade de nossa sociedade, em especial no que diz respeito a esse assunto, infelizmente manifesta-se claramente nesse cenário.

Da mesma forma, a metamorfose poderia representar uma súbita mudança de postura diante da vida, de ideias e pensamentos diversos dos que se tinha anteriormente e/ou que eram pressupostos e aceitos pelo seu meio. Por exemplo, uma nova ideologia política, uma nova visão religiosa ou até mesmo filosófica perante a vida, um desejo de mudança radical de profissão. Poder-se-ia aqui até mesmo ir mais longe e encontrar um tipo de profecia kafkiana: na Segunda Guerra, os judeus, antes a base econômica da Alemanha, são como que por uma "metamorfose", vistos de forma totalmente oposta, como os parasitas daquela sociedade, parasitas estes que necessitavam ser eliminados. E o que ocorre é justamente isso: a tentativa de extermínio desses "insetos". A metamorfose seria aqui a súbita guinada do governo e da população alemã contra os judeus.


Por outro lado, a posterior metamorfose dos membros da família, que de prostrada e doente, parasita e dependente, se torna ativa, saudável, independente e auto-suficiente nos encaminha para uma outra possível forma de interpretação. A postura de Gregor, anterior à sua transformação, de se anular para salvar sua família, por um lado ajudava-a financeiramente, mas por outro inibia e sufocava seu próprio crescimento e expansão. Vê-se aqui então em Gregor não mais uma vítima, mas sim um vilão. Essa forma ambígua de ver essa situação nos mostra que a metamorfose seria então um re-equilíbrio de uma situação que estava em pendência, uma redenção de algo que necessitava ser restaurado. A "saída" de Gregor do campo de ação familiar abre espaço para o desabrochar de todos os integrantes da família. Assim, a metamorfose seria na realidade benéfica. Ou seja, aqui a metamorfose de Gregor seria como símbolo de libertação dos membros de sua família, já que eles, após sua transformação, quebraram as amarras do ciclo vicioso da dependência.

       Mais algumas questões importantes

Além da metamorfose em si de homem em inseto e da postura da família em geral perante a vida, há a metamorfose dos sentimentos da irmã, que no início nutria amor pelo irmão, mas depois passa a querer se livrar dele. Ela deve de certa forma ser vista como o elemento-guia da história, pois é ela quem na realidade comanda a guinada dos acontecimentos.


·         O fato de o pai ter tentado, por pelo menos duas vezes, matá-lo, indica o seu desejo de livrar-se do filho-inseto, quer pelo fato de este não lhe suprir em mais nada, quer talvez pelo fato de ver claramente como este "rastejava" pelo seu reconhecimento e aceitação, o que o enojava.

·          A ferida que não cicatriza nas costas, causada pelo pai, primeiramente evoca uma interpretação biográfica da relação de Kafka com seu pai, pois o peso da maçã que carrega nas costas torna difícil uma outra concepção que não esta, ou seja, de Kafka carregando algo nas costas, um peso de uma vida de fardo. Mas por que logo uma maçã? Biblicamente, fruto do conhecimento do bem e do mal, que causou a expulsão do homem do paraíso, a maçã pode oferecer aqui várias analogias: a maçã como a constatação de Gregor de que na realidade não era querido nem amado por sua família; a maçã como veículo catalisador que torna Gregor consciente de seu papel simplesmente supridor para todos da casa; a maçã que tirou o homem do paraíso, como analogia de Gregor estar também sendo expulso de seu "paraíso" de ilusão e engano.

·          Nabokov coloca também a questão do número 3 em pauta: são 3 quartos, 3 portas, 3 membros da família, 3 partes do livro, 3 homens que moram posteriormente na casa, 3 cartas que são escritas. "Die Zahl drei spielt eine herausragende Rolle." (Kafka, 1986, p. 106). Em português, "o número três ocupa um papel excepcional".. A trindade sempre foi um símbolo altamente significativo, entre outras místico, religioso e cabalístico. Saber o que Kafka quis nos dizer ao fazer estes paralelos é difícil, mas o fato é que essa trindade está presente na história, e isto não ocorre somente por mera coincidência. A questão do número 3 se mostra bem interessante e até mesmo intrigante quando observamos que Kafka nasceu e morreu num dia 3. Kafka tinha 3 irmãs, e seus pais tiveram 3 filhos homens. Ele crescerá também sob a influência de 3 culturas.

Sobre o autor

Franz Kafka nasceu em 3 de julho de 1883, em Praga, cidade que na época pertencia à monarquia austro-húngara, tendo sido ele um escritor tcheco de língua alemã. Nascem depois dele dois meninos, que irão morrer pouco tempo após o nascimento, fato que segundo alguns psicólogos especialistas na obra de Kafka será um fator determinante para o sentimento de culpa presente em seus livros. Kafka teve a infância e a adolescência marcadas pela figura dominadora do pai, Herrmann Kafka, um abastado comerciante judeu, e de sua esposa Julie, nascida Löwy, dos quais era o primogênito. Cresce sob as influências de três culturas: a judaica, a tcheca e a alemã. Kafka aprendeu alemão como sua primeira língua, contudo era também quase fluente em tcheco. Estudou Direito e Germanística na Universidade de Praga, onde conheceu seu grande amigo e posterior biógrafo, Max Brod.


Suas obras retratam as ansiedades e a alienação do homem do século XX e tornaram-se proféticas das perseguições que os judeus passariam a sofrer poucos anos após a sua morte. Seu livro Die Verwandlung / A Metamorfose, foi publicado ainda em vida e dedicado a seu pai, em 1915, ainda durante a Primeira Guerra. No ano de 1922, Kafka pedirá a seu amigo Max Brod que destrua todas as suas obras após sua morte. Contra o desejo expresso do escritor, que queria que seus inéditos fossem queimados, Brod publicou romances, textos em prosa, e até mesmo correspondência pessoal e diários. Kafka falecerá dia 3 de junho de 1924 no sanatório Kierling, na Áustria.




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