segunda-feira, 18 de novembro de 2013

QUESTÕES SOBRE A OBRA MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS:




PARA VOCÊ ESTUDAR APÓS A LEITURA DA OBRA.

...Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. Meu pai, logo que teve aragem dos onze contos, sobressaltou-se deveras; achou que o caso excedia as raias de um capricho juvenil.
              — Desta vez, disse ele, vais para a Europa; vais cursar uma Universidade, provavelmente Coimbra; quero-te para homem sério e não para arruador e gatuno. E como eu fizesse um gesto de espanto: — Gatuno, sim senhor; não é outra coisa um filho que me faz isto...
              Sacou da algibeira os meus títulos de dívida, já resgatados por ele, e sacudiu-mos na cara. — Vês, peralta? é assim que um moço deve zelar o nome dos seus? Pensas que eu e meus avós ganhamos o dinheiro em casas de jogo ou a vadiar pelas ruas? Pelintra! Desta vez ou tomas juízo, ou ficas sem coisa nenhuma.
               Estava furioso, mas de um furor temperado e curto. Eu ouvi-o calado, e nada opus à ordem da viagem, como de outras vezes fizera; ruminava a ideia de levar Marcela comigo. Fui ter com ela; expus-lhe a crise e fiz-lhe a proposta. Marcela ouviu-me com os olhos no ar, sem responder logo; como insistisse, disse-me que ficava, que não podia ir para a Europa.
               — Por que não?
               — Não posso, disse ela com ar dolente; não posso ir respirar aqueles ares, enquanto me lembrar de meu pobre pai, morto por Napoleão...
              — Qual deles: o hortelão ou o advogado?

            Machado de Assis – Memórias Póstumas de Brás Cubas – p, - Ed. Ftd

01- O fragmento apresenta a inversão do conceito romântico de amor. Explique o que move Marcela a amar Brás Cubas:

R: O amor inverte-se por meio de conceitos, nada morais, que Machado de Assisi contrói seus personagens: Marcela não ama Brás pelo o que ele é, mas sim pelo o que ele tem. É através de presentes ganhos que faz com Marcela busque o interesse por Brás. Quinze meses é o quanto Brás pôde durar esse amor, no caso onze contos de réis.

02- Comente o que diferencia Brás do herói romântico:

R: Brás Cubas é, como o próprio pai diz, um gatuno. Vadio, que vive a gastar a fortuna da família em excesso. Brás Cubas é um verdadeiro “bom vivant”, alterna ironia e amargura, melancolia e bom-humor, sem perder a leveza. A diferença entre Brás e o herói romântico, é que o último é retratado por meio de sentimentos de solidão, tristeza e desilusão que, quando ligados a conflitos amorosos, tendem a resultar em situações de grande tragicidade, tal qual suicídios, exílios etc.

03- A reação do pai de Brás Cubas representa uma punição ou um prêmio? Justifique:

R: “Vais para a Europa. Vais cursar uma universidade...” significaria um prêmio para qualquer pobre mortal, no entanto, o prêmio cai como um castigo para Brás, que terá de se ver distante do amor de Marcela e da vida boêmia que levava em vida.

04- Marcela, em relação á proposta de Brás para acompanhá-lo à Europa, revela  sinceridade ou ironia? Justifique:

R: Marcela trata com ironia o pedido de Brás de que ela o acompanhe a Europa. Marcela não possui interesse algum de ir com ele, tendo em vista sua vida de “ganhos” no Rio de Janeiro. No entanto, mesmo irônica, há traços de sinceridade na resposta de Marcela, ressaltando que ela nada quer com Brás, a não ser suas posses materiais.

05- É possível reconhecer a condição social e econômica de Brás Cubas no fragmento. Ela corresponde ao mesmo padrão do herói romântico? Justifique:

R: O herói romântico está associado, no Realismo, a trabalhadores e pessoas simples que carregam todos os problemas do cotidiano que passam pelos humildes. Brás Cubas, no entanto, é um total anti-herói romântico, que, mesmo com todo seu amor, não se mantém sem a sua paixão pela vida materialista.

                                      Das Negativas

         Entre a morte do Quincas Borba e a minha, mediaram os sucessos narrados na primeira parte do livro. O principal deles foi a invenção do emplasto Brás Cubas, que morreu comigo, por causa da moléstia que apanhei. Divino emplasto, tu me darias o primeiro lugar entre os homens, acima da ciência e da riqueza, porque eras a genuína e direta inspiração do céu. O acaso determinou o contrário; e ai vos ficais eternamente hipocondríacos.
         Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de Dona Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que sai quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: - Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.

Memórias Póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis – p. 145

01-      O primeiro parágrafo refere-se aos sucessos do personagem. A conclusão confirma ou nega os sucessos? Justifique:
R: Brás Cubas fracassa na sua tentativa de inventar o emplasto. O que seria a sua salvação acaba por se tornar a causa da sua morte. Apresentado como um medicamento cravado de motivos nobres, o emplasto não passa de um capricho particular de Brás, que desejava ver seu nome impresso nos jornais.

02-      Explique o sentido da frase: - Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria:

R: Para Brás, o capítulo de negativas termina com um pequeno saldo, que é não colocar mais um ser humano nessa vida, tendo em vista o mundo mesquinho e cruel visto pelos olhos do personagem. Não ter tido filho algum, salvou-o das misérias do ser humano.


03-      Comente a reação de Brás Cubas diante de sua sucessão de fracassos:

R: Brás Cubas, apesar de todas as negativas descritas acerca da sua vida, de onde a sua vida chegou no fim, mostra-se positivo. Ele realça que apesar dos pesares, não foi de todo ruim. Mesmo não tendo conquistado a celebridade, não ter se casado e nem sido ministro, não viveu sempre à mercê da miséria. O lado positivo descrito por ele, ironicamente, ressalta a vida com uma boa fortuna. Ao final, saiu quite com a vida: não teve tudo o que queria, mas também não perdeu tudo o que possuía.

04-       A visão de Brás Cubas sobre as realizações pessoais é idealista ou realista? Justifique:

R: Brás Cubas é um narrador realístico, que permite-nos, à medida em que desvendamos suas ironias, desvendá-lo por meio de suas zombarias, enxergando-o como um personagem contraditório e imperfeito. O realismo peculiar sobre suas realizações é uma busca do real indo além das aparências.

05-      Relacione a frase a seguir ao contexto social e econômico do autor: Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto:

R: Brás deixa claro que, mesmo sob todas as adversidades que coube a ele ter em vida, ainda assim não precisou passar pelo suor do trabalho. O contexto conflituoso de Brás é uma representação literária da sociedade da época. Machado de Assis, realista, trabalhou o tema social de forma a diferenciar-se dos seus contemporâneos, aprofundando-se na análise interior do homem, desvendando sua fragilidade existencial consigo mesmo e com os outros homens da sua época.


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