quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Algumas orientações sobre a obra: O cortiço.

 
Movimento literário:Naturalismo.
 
Características: Linguagem correta e culta, com frases bem-talhadas e precisas, mesclada com o registro fiel da oralidade em diálogos que retratam os falares do povo. Outro traço marcante é o emprego de sinestesias, bem como o largo uso de metáforas e imagens que associam os homens a animais (zoomorfismo). Narrado em 3ª pessoa. Narrador onisciente e, por vezes, parcial. Ele força as tintas na denúncia da vida parasitária, viciosa e torpe das camadas abastadas; já as camadas populares - e sofredoras - são expostas com flagrantes de simpatia e vivacidade, mas sempre cumprindo a tese de que o meio determina o homem. Cenário: Rio de Janeiro, no século XIX. É a época do desenvolvimento da cidade grande, que, ao crescer, recebe um imenso contingente de trabalhadores pobres e paupérrimos. O cenário, esquematicamente, pode ser visto como ponto (espaço do cortiço, de João Romão) e contraponto (espaço do sobrado, de Miranda). É do embate inevitável desses dois meios contíguos que irão despontar os dramas, as humilhações, a ganância, a inveja, as misérias e toda a degradação humana e moral das personagens.
 
Personagens:
  • O cortiço: a rigor, não constitui um personagem, e sim um ente abstrato. No contexto da obra, todavia, o cortiço é delineado de uma forma orgânica e viva; ele é um grande organismo, cujas células são os moradores que nele habitam. Com efeito, as mudanças psicológicas dos moradores se traduzem em mudanças físicas do cortiço, e vice-versa.

  • João Romão: é o elemento-chave da narrativa. O português é o exemplo acabado da ganância, avareza e mau-caráter. Fisicamente, é baixo, desleixado, malvestido; humanamente, é o retrato perfeito da abjeção e chega a ser repulsivo. Sua ânsia por rivalizar e vencer Miranda leva-o a um comportamento doentio, no qual o roubo, a exploração e a falsificação são condutas normais. Chega a comer restos de comida para economizar e, assim, enriquecer. Conforme ascende socialmente, vai se transformando: veste-se melhor, compra móveis e utensílios, escova os dentes, etc. O compromisso de ascensão social surge com o casamento arranjado com Zulmira, a filha do comendador Miranda.

  • Miranda: o grande êmulo de João Romão. Português de origem humilde, ex-caixeiro que enriqueceu ao se casar com Dona Estela; vive um matrimônio de aparências e de ódio. Suspeita de adultério da esposa. Guarda um título de nobreza e mora num sobrado luxuoso. Leva a vida mundana da alta sociedade e é, em tudo, invejado e copiado por João Romão.

  • Bertoleza: escrava que vendia peixes na quitanda. Torna-se empregada e amante de João Romão, que mente para ela, alegando ter comprado sua alforria. No final da trama, com João Romão já rico, ele irá descartá-la, entregando-a para o antigo senhor. Revoltada e humilhada, Bertoleza se suicida com a faca que fatiava peixe.

  • Rita Baiana: mulata insinuante, sensual, desperta uma tara em Jerônimo, que a deseja como um animal no cio. Cheio de luxúria e cobiça, Jerônimo manda matar, a pauladas, o namorado de Rita, Firmo.

  • Firmo: mais que namorado de Rita Baiana, Firmo simboliza o cortiço rival e vizinho, o "Cabeça de Gato", que vai se deteriorando progressivamente, na mesma medida em que o cortiço de João Romão ganha força e cresce.

  • Jerônimo: português, adotado como símbolo de uma tese determinista - a da influência do meio. De homem íntegro e laborioso, Jerônimo vai se "abrasileirando", e se faz malandro, lascivo e rude. Foge com Rita Baiana, deixando a mulher à míngua, que também se deteriora e perde-se na promiscuidade.

  • Pombinha: a menina mantém uma relação homossexual com a prostituta Léoni. A primeira menstruação é a linha divisória da vida de Pombinha, vista daí em diante como mulher. Pombinha passa de símbolo da inocência e meiguice para desregrada e decaída.

  • Albino: tipifica o elemento homossexual, que vive entre as mulheres.

  • Bruxa: figura importante, pois ateará fogo ao cortiço, permitindo sua reforma e posterior melhoria de clientela.

Enredo: o enredo é bastant
e simples. João Romão, pequeno comerciante, desvia o dinheiro da negra Bertoleza, destinado à sua carta de alforria, e, com ele e algumas poucas economias, constrói um armazém e algumas casas populares (barracos) para aluguel. Numa dinâmica capitalista, reinveste o lucro dos aluguéis no próprio negócio e, às custas de economia sobre economia, sacrifício pessoal e descarado roubo, vai erguendo um pequeno império, que compreende os barracos, uma pedreira e a sua venda. À margem do enriquecimento de João Romão, desenrolam-se os dramas pessoais dos moradores do cortiço, que se veem continuamente endividados e presos à usura do comerciante. Com o tempo, João Romão atinge o status pretendido, ingressando na vida fútil da fina sociedade. O cortiço, paralelamente, se desfaz (pelo incêndio) e se refaz como fênix, tornando-se agora moradia de gente mediana, de melhor situação social e econômica.

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