FÁBULAS
“Leia os
dois textos abaixo:
a) Um asno, vítima da
fome e da sede, depois de longa caminhada, encontrou um campo de viçoso feno ao
lado do qual corria um regato de límpidas águas. Consumido pela fome e pela
sede, começou a hesitar, não sabendo se antes comia do feno e depois bebia da
água ou se antes saciava a sede e depois aplacava a fome. Assim, perdido na
indecisão, morreu de fome e de sede. (Fábula de Buridan, filósofo da Idade
Média).
b) Um indivíduo, colocado
diante de dois objetos igualmente desejados, pode ficar de tal forma indeciso
que acaba por perder a ambos.
Esses dois textos querem dizer basicamente a
mesma coisa. No entanto, são estruturados de maneiras diferentes. Qual a
diferença existente entre eles?
O primeiro é mais concreto; o segundo, mais
abstrato. Mas por quê? O primeiro remete a elementos existentes do mundo
natural: asno, campo, feno, regato, águas, etc. O segundo remete a elementos
mais abstratos, que explicam certos aspectos da conduta humana: indivíduo, objetos
igualmente desejados, indeciso.
Subjacente a esses dois textos há o mesmo
esquema narrativo:
a)
Um
sujeito encontra-se privado de dois objetos e quer conquistar a posse de ambos;
b)
Devendo
optar por um deles e sendo igualmente atraído pelos dois, é incapaz de realizar
a escolha;
c)
Permanece
privado de ambos.”.
(FIORIN, Platão. Para entender o texto. São Paulo: Ática, 2007, p.71)
A fábula, portanto, é um gênero textual híbrido,
transitando entre dois tipos de texto: narrativo e argumentativo. Não se trata,
claro, de uma alternância inconsequente entre os tipos textuais, já que há
entre eles uma mútua implicação. O mundo representado, coerente em si mesmo (asno,
regato e feno), foi mobilizado para cumprir um papel pedagógico: convencer o
leitor dos perigos da indecisão. Para atingir essa finalidade pragmática, a
narrativa organiza as ações em função de sua exemplaridade. O leitor pode
depreender a “lição”, sem mesmo ler a moral, percebendo que o fabulista não se
dedica a assunto tão distante de sua realidade sem um objetivo claro em vista.
Poder-se-ia dizer que na fábula, a argumentação é feita toda com exemplos de um
mundo natural e remoto, em que a naturalidade do comportamento e das ações dos
animais ensaia lições morais valiosíssimas.
As fábulas são pequenas histórias
que transmitem uma lição de moral é uma das mais antigas formas de narrativa.
As personagens das fábulas são geralmente animais, que representam tipos
humanos, como o egoísta, o ingênuo, o espertalhão, o vaidoso, o mentiroso, etc.
Muitos escritores dedicaram-se às
fábulas, mas três ficaram mundialmente famosos: o grego Esopo (século VI a.C.),
o latino Fedro (15 a.C.
- 50 d.C.) e o francês Jean de La
Fontaine (1621 - 1695).
No Brasil, Monteiro Lobato (século
XX) foi quem as recriou. Millôr Fernandes é um escritor carioca que recriou as
antigas fábulas de Esopo e La
Fontaine, de forma satírica e engraçada.
Expoentes da arte de fabular
Esopo: um escravo que viveu
no século 6º. a.C., na Grécia antiga inventava histórias em que os animais eram
os personagens. Por meio dos diálogos entre os bichos e das situações que os
envolviam, ele procurava transmitir sabedoria de caráter moral ao homem. Assim,
os animais, nas fábulas, tornam-se exemplos para o ser humano. Cada bicho
simboliza algum aspecto ou qualidade do homem como, por exemplo, o leão
representa a força; a raposa, a astúcia; a formiga, o trabalho etc. A estrutura
de seus textos fez escola: curtos e bem humorados, linguagem simples, uso de
prosopopeias e tópicos ligados à experiência cotidiana. Entre suas célebres
fábulas, incluem-se: “A Raposa e as uvas”; “A Lebre e a Tartaruga” e “A Galinha
e os ovos de ouro”
La Fontaine: O francês Jean de La Fontaine (1621-1695) foi um dos maiores
divulgadores dos textos de Esopo. Ele recriava essas fábulas com o objetivo de
"educar" o homem de sua época. Conforme suas próprias palavras:
"Acho que deveríamos colocar Esopo
entre os grandes sábios de que a Grécia se orgulha, ele que ensinava a
verdadeira sabedoria, e que a ensinava com muito mais arte do que os que usam
regras e definições". Entre suas célebres fábula, incluem-se: “A
Cigarra e a Formiga”, “O Homem, o Menino e a Mula” e “O Lobo e o Cordeiro”.
·
Acredita-se que esse tipo de
texto tenha nascido no século XVIII a.C., na Suméria. Há registros de fábulas
egípcias e hindus, mas atribui-se à Grécia a criação efetiva desse gênero
narrativo.
·
A importância dada à moralidade
era tanta que os copistas da Idade Média escreviam as lições finais das fábulas
com letras vermelhas ou douradas para destacar.
·
A presença dos animais deve-se,
sobretudo, ao convívio mais efetivo entre homens e animais naquela época.
·
O uso constante da natureza e dos animais
para a alegorização da existência humana confere às histórias um ar de “ordem
natural” fixa e imutável, além de aproximar o público das "moralidades”.
Em
geral, a fábula mantém a seguinte estrutura bem fixa:
1.
Um conteúdo moral como fio condutor do enredo;
2.
Situação inicial
3.
Conflito
4.
Tentativa de Solução
5.
Situação final
6.
Revelação do conteúdo moral (em geral na sua forma proverbial)
A
Águia e a Gralha
Uma Águia, saindo do seu
ninho no alto de um penhasco, num fulminante voo rasante e certeiro, capturou
uma ovelha e a levou presa às suas fortes e afiadas garras.
Uma Gralha, que a tudo
testemunhara, tomada de inveja, decidiu que poderia fazer a mesma coisa.
Ela então voou para alto e
tomou impulso. Então, com grande velocidade, atirou-se sobre uma Ovelha com a
intenção de também carregá-la presa às suas garras.
Ocorre que suas garras,
pequenas e fracas, acabaram por ficar embaraçadas no espesso manto de lã do
animal, e isso a impediu inclusive de soltar-se, embora o tentasse com todas as
suas forças.
O Pastor das ovelhas, vendo o que estava
acontecendo, capturou-a. Feito isso, cortou suas penas, de modo que não pudesse
mais voar.
À noite a levou para casa e entregou
como brinquedo para seus filhos.
"Que pássaro engraçado
é esse?", perguntou um
deles.
"Ele é uma Gralha meus
filhos. Mas se você lhe perguntar, ele dirá que é uma Águia."
Moral da História: Não devemos permitir que a ambição nos
conduza para além dos nossos limites.
O
olho do dono
Uma corça, fugindo aos caçadores,
escondeu-se num estábulo. E pediu às vacas que não a denunciassem, prometendo-lhes
em troca do asilo mil coisas. As vacas mugiram que sim e o fugitivo agachou-se
num cantinho.
Vieram à tarde os tratadores, com os
feixes de capim e a cana picada. Encheram as manjedouras e saíram.
Veio também, fiscalizar o serviço, o
administrador da fazenda. Correu os olhos por tudo e foi-se.
A corça respirou.
- Vejo que este lugar é seguro –
disse ela. Os homens entraram e saem sem perceber coisa nenhuma.
Uma vaca, porém, a avisou:
- O perigo, meu caro, é que apareça
por aqui o bicho de Cem-Olhos.
- Quê? – exclamou a corça. Há disso?
- Há sim. Chama-se Dono. É um que
quando aparece tudo vê, tudo descobre, desde o menor carrapato do nosso lombo
até o sal que o tratador nos furta. Se ele vem, amigo, tu estás perdido!
Não demorou muito, surge Cem-Olhos.
Vê aranhas no teto e interpela os homens da lida:
- Por que não tiram isso?
Vê um cocho rachado:
- Consertem este cocho.
Vê o chão mal limpo!
- Vassoura, aqui!
E está claro que também viu as
pontas do chifre da corça.
- Que história é esta? Chifre de
corça entre as vacas?...
Aproximou-se e descobriu o mísero.
- Uma espingarda! – gritou – e era
uma vez uma corça
Moral: O olho do dono engorda a criação
(Fábulas: Monteiro Lobato)
O Nascer do Capitalismo (à maneira dos americanos)
Um homem tinha uma
fazenda perto de um rio. Certo dia o rio começou a subir e ele percebeu que sua
fazenda ia ficar submersa. Transferiu toda sua família e todo seu gado e todos
seus utensílios e móveis para o alto da montanha mais próxima. Havia, na sua
fazenda, exatamente 284 quilômetros de cerca de arame farpado. Era um arame de
sete farpas por metro, num total de sete mil farpas por quilômetro e, portanto,
toda cerca somava 1.988.000 farpas. O homem arranjou um empregado, que, sem
comer nem dormir, colocou em cada uma dessas farpas um pedacinho de carne, uma
isca qualquer. Quando terminou, mal teve tempo de subir a montanha. Veio o
dilúvio.
Durante noventa e três
horas choveu ininterruptamente. Durante noventa e seis horas o rio esteve três
metros acima da cerca. Mas logo as águas cederam, e rapidamente o rio voltou ao
normal. O homem desceu e examinou a cerca. Encontrou, maravilhado, um peixe
pendente de cada farpa, exceto três. Ou seja, um total de 1.987.997 peixes.
Havia tainhas, e havia robalos, corvinas, namorados, galos e muitas outras
espécies que ele nunca vira.
Cada peixe pesava, em
média, duzentas e cinquenta gramas, de modo que o homem tinha um total de
496.099.250 gramas de peixe fresco, ou seja, 496.999 quilos de peixe. Isso
tudo, vendido a 200 cruzeiros o quilo, vocês façam a conta e Ah, naturalmente o
empregado foi despedido porque colocou mal as iscas nas três farpas que
falharam.
Moral da História: O operariado deve ter o máximo cuidado com as iscas do Capitalismo.
(Fábulas: Millôr Fernandes)
1.) Compare as duas
histórias abaixo:
A galinha dos Ovos de Ouro
(Esopo)
Um camponês e sua esposa possuíam uma galinha, que todo dia, sem falta, botava um
ovo de ouro.
Supondo que dentro
dela deveria haver uma grande quantidade de ouro, eles então a sacrificam para
enfim pegar tudo de uma só vez.
Então, para surpresa
dos dois, viram que a ave, em nada era diferente das outras galinhas.
Assim, o casal de
tolos, desejando enriquecer de uma só vez, acaba por perder o ganho diário que
já tinham assegurado.
Moral da História: Quem
tudo quer, tudo perde.
A
galinha dos Ovos de Ouro
Era uma vez um homem
que tinha uma galinha. Subitamente, em dia inesperado, a galinha pôs um ovo de
ouro. Ouro!
Outro dia, outro ovo.
Outro ovo de ouro! O homem mal podia dormir:
Esperava todas as
manhãs pelo ovo de ouro – clara, gema, gala, tudo de ouro! – que o tiraria da
miséria aos poucos, e aos poucos o ia guindando ao milionarismo. O fato, que
antigamente poderia passar despercebido, na data de hoje atraia verdadeiras
multidões. E não só multidões. Rádio, jornais, televisão, tudo entrevistava o
homem, pedindo-lhe impressões, querendo saber detalhes de como acontecera o
espantoso acontecimento. E a galinha, também, dando aqui e ali seus shows
diante dos jornais, câmeras, microfones.
Certa vez, mesmo num
esforço de reportagem, conseguiu pôr um ovo diante da câmera da TV. Porém, o
tempo passou e muito antes que o homem conseguisse ficar rico, a galinha deixou
de botar ovos de ouro. Desesperado, o homem foi ocultando o fato até que certo
dia, não se contendo mais, abriu a galinha para apanhar os ovos que ela tivesse
lá dentro. Para sua surpresa, não havia nenhum.
Então o homem –
espírito bem moderno – resolveu explorar o nome que lhe ficara do acontecimento
e abriu um enorme Galeto, com o sugestivo nome de Aos ovos de ouro. E isso lhe deu muito mais dinheiro do que a
galinha propriamente dita.
Moral: Cria galinha
e deita-te no ninho.
a) Qual o núcleo narrativo comum às duas
histórias?
b) As fábulas tradicionais apresentam poucas
indicações sobre tempo e espaço, o que confere a elas um caráter atemporal. Na
versão de Millôr Fernandes, por outro lado, há pistas que sugerem que a
história se passa em tempos atuais. Que pistas seriam essas?
b) As fábulas tradicionais representam
comportamentos humanos de forma alegórica, portanto, é perfeitamente verossímil
que acontecimentos extraordinários (como o fato de os animais falarem) não
despertem no leitor nenhuma estranheza. De que maneira, esta regra foi violada
na versão de Millôr Fernandes?
c) Na moral da história de Millôr, há um jogo
intertextual com o conhecido provérbio “Cria
a fama e deita-te na cama”. Considerando o desfecho da narrativa, é
possível afirmar que a versão do escritor se opõe à versão de Esopo?
Justificar.
2.) UNESP/98)
A MORTE DA TARTARUGA
"O
menininho foi ao quintal e voltou chorando: a tartaruga tinha morrido. A mãe
foi ao quintal com ele, mexeu na tartaruga com um pau (tinha nojo daquele
bicho) e constatou que a tartaruga tinha morrido mesmo. Diante da confirmação
da mãe, o garoto pôs-se a chorar ainda com mais força. A mãe a princípio ficou
penalizada, mas logo começou a ficar aborrecida com o choro do menino.
"Cuidado, senão você acorda o seu pai". Mas o menino não se
conformava. Pegou a tartaruga no colo e pôs-se a acariciar-lhe o casco duro. A
mãe disse que comprava outra, mas ele respondeu que não queria, queria aquela,
viva! A mãe lhe prometeu um carrinho, um velocípede, lhe prometeu uma surra,
mas o pobre menino parecia estar mesmo profundamente abalado com a morte do seu
animalzinho de estimação.
Afinal,
com tanto choro, o pai acordou lá dentro, e veio, estremunhado, ver de que se
tratava. O menino mostrou-lhe a tartaruga morta. A mãe disse: - "Está aí
assim há meia hora, chorando que nem maluco. Não sei mais o que faço. Já lhe
prometi tudo mas ele continua berrando desse jeito". O pai examinou a
situação e propôs: - "Olha, Henriquinho. Se a tartaruga está morta não
adianta mesmo você chorar. Deixa ela aí e vem cá com o pai". O garoto
depôs cuidadosamente a tartaruga junto do tanque e seguiu o pai, pela mão. O
pai sentou-se na poltrona, botou o garoto no colo e disse: - "Eu sei que
você sente muito a morte da tartaruguinha. Eu também gostava muito dela. Mas
nós vamos fazer pra ela um grande funeral". (Empregou de propósito a
palavra difícil). O menininho parou imediatamente de chorar. "Que é
funeral?" O pai lhe explicou que era um enterro. "Olha, nós vamos à
rua, compramos uma caixa bem bonita, bastante balas, bombons, doces e voltamos
para casa. Depois botamos a tartaruga na caixa em cima da mesa da cozinha e
rodeamos de velinhas de aniversário. Aí convidamos os meninos da vizinhança,
acendemos as velinhas, cantamos o "Happy-Birth-Day-To-You" pra
tartaruguinha morta e você assopra as velas. Depois pegamos a caixa, abrimos um
buraco no fundo do quintal, enterramos a tartaruguinha e botamos uma pedra em
cima com o nome dela e o dia em que ela morreu. Isso é que é funeral! Vamos
fazer isso?" O garotinho estava com outra cara. "Vamos papai, vamos!
A tartaruguinha vai ficar contente lá no céu, não vai? Olha, eu vou apanhar
ela". Saiu correndo. Enquanto o pai se vestia, ouviu um grito no quintal.
"Papai, papai, vem cá ela está viva!" O pai correu pro quintal e
constatou que era verdade. A tartaruga estava andando de novo normalmente.
"Que bom, hein" - disse - "Ela está viva! Não vamos ter que
fazer o funeral!" "Vamos sim, papai" - disse o menino ansioso,
pegando uma pedra bem grande - "Eu mato ela".
MORAL: O IMPORTANTE NÃO É A MORTE, É O QUE
ELA NOS TIRA."
(Fernandes, Millôr.
"A morte da Tartaruguinha". ln: Fábulas Fabulosas. 9ª ed., Rio de
Janeiro, Nórdica, 1985, pp. 100/101)
Depois de ter lido a narrativa da fábula,
como você interpreta a "moral" da mesma?
Escolha um dos provérbios apresentados no
final da folha e invente uma fábula em que ele possa ser utilizado como moral
da história. Nesta fábula, as personagens deverão ser dois animais.
Siga estas orientações:
a) As
personagens da fábula devem ser preferencialmente animais com características
humanas. Alguns fabulistas escolhem de preferência animais como personagens
porque eles fazem nos lembrar de atitudes humanas. A formiga, por exemplo, é
trabalhadeira, organizada; a raposa, esperta; o cão, fiel e, amigo; a cobra,
astuta, perigosa; o leão, vaidoso; o cordeiro, ingênuo, inocente.
b) Caracterize
os personagens de forma simples. Para isso, empregue palavras como, por
exemplo, astuto, frágil, inteligente, lento, forte, perigoso, feroz,
desconfiado, esperto, traiçoeiro, etc.
c) Lembre-se
de que a fábula constitui uma narrativa curta. Se quiser, você pode escrever
sua narrativa em forma de diálogo. A linguagem empregada deve, entretanto,
estar de acordo com a variedade padrão da sua língua. Seu texto deverá ter 20
linhas no mínimo.
d) Como
nas fábulas o tempo e o lugar são imprecisos, procure iniciar seu texto de
forma direta, isto é, com personagens em plena ação. Lembre-se de que sua
história deve transmitir um ensinamento ou ensejar uma reflexão sobre um
comportamento virtuoso.
e) No
final, escreva, como moral da sua história, um dos provérbios acima. Lembre-se
de que o provérbio deve resumir toda a fábula à verdade contida no ditado.
O
"Rap" da cigarra e da formiga :
LA FONTAINE
REVISITADO:
O RAP DA CIGARRA E
A FORMIGA
Saca essa fábula,
bicho,
que vai te deixar
cabreiro.
Num depósito de
lixo
tinha um bruta
formigueiro.
O formigueiro
falado,
na verdade não era
mixo.
Foi para ficar
rimado
que eu falei que
era no lixo.
As formigas,
ligadonas,
trabalhavam noite
e dia.
Ficavam muito
doidonas
plugadas nessa
mania.
podes crer, não é
mentira.
Um dia uma punk
louca
que se chamava
cigarra
e achava que era
uma touca
trabalhar tanto,
na marra,
se meteu com a
formigada
e falou,
pontificando:
- Trabalhar é uma
jogada
devagar quase
parando.
Coisa careta, uma
fria,
bobeira que eu não
assumo
e avisou que não
curtia
formigueiro de
consumo.
As formigas, sem
ligar,
responderam na
maior:
- Se você não
trabalhar,
vai acabar na
pior.
A cigarra se
mandou
dizendo que era
besteira.
Das formigas se
afastou
cantando um roque
pauleira.
Só voltou quando
era inverno.
As formigas, pra
esnobar, em vez de
um papo fraterno,
foram se bacanear.
Disseram logo as
formigas:
- Olha, se quiser
guarida
vai pedir pras
tuas amigas.
Nós não damos boa
vida.
E a cigarra: - Eu
tô na minha...
Não vim aqui pedir
nada.
Só vim dizer que
eu, sozinha,
fiz a Sena
acumulada.
Moral: Para alguém ganhar sozinho na Sena acumulada, tem que ser leão.
Ou então cigarra, bicho. Enfim, bicho, bicho.
JÔ Soares, In: Revista
VEJA, 31.10.1990 p. 17
Ditados Populares e seu significado:
N°
|
Dito Popular
|
Valor/Significado
|
1
|
Água mole em pedra dura tanto
bate até que fura.
|
Persistência
|
2
|
Quem quer, faz; quem não
quer, manda.
|
Ação
|
3
|
Quem com ferro fere, com
ferro será ferido.
|
Justiça/Vingança
|
4
|
Santo de casa não faz
milagre.
|
Estrangeirismo
|
5
|
Papagaio velho não aprende a
falar.
|
Comodismo/cristalização/descrença
na mudança.
|
6
|
Costume de casa vai à praça.
|
Hábito/Vício
|
7
|
Nem só de pão vive o homem.
|
Fé/Inovação
|
8
|
Quem não quer ver lobo não
lhe vista a pele.
|
Conduta
|
9
|
Quem com os porcos se
mistura, farelos come.
|
Influência
|
10
|
Pau que nasce torto nunca se
endireita.
|
Rigidez/Inflexibilidade
|
11
|
Diz-me com quem andas que te
direi quem és.
|
Influência
|
12
|
Macaco velho não mão em
cumbuca.
|
Prudência/Precaução/Cautela
|
13
|
O perigo que corre o pau corre
o machado.
|
Igualdade
|
14
|
Quem foi rei nunca perde a
majestade.
|
Experiência/Hábito
|
15
|
Panela que muitos mexem, ou
sai ensossa ou salgada.
|
Falta de Unidade de Comando/
Desorganização
|
16
|
Quem não arrisca não petisca.
|
Risco/Ousadia/Ação
|
17
|
Quem vai ao vento, perde o
assento.
|
Risco
|
18
|
Em boca fechada não entra
mosquito.
|
Discrição ao falar
|
19
|
Todos os caminhos levam a
Roma.
|
Escolha
|
20
|
Palavra de rei não volta
atrás.
|
Firmeza
|
21
|
Casa de ferreiro, espeto de
pau.
|
Incoerência
|
22
|
Em terra de cego, quem tem um
olho é rei.
|
Poder/Destaque
|
23
|
Quem não tem cão, caça como
gato.
|
Flexibilidade/Adaptação
|
24
|
Mais vale prevenir do que
remediar.
|
Prudência
|
25
|
Quem tem boca vai a Roma.
|
Comunicação/Persistência
|
26
|
Deus ajuda a quem cedo
madruga.
|
Ação/Esforço
|
27
|
Caititu fora da manada é papa
de onça.
|
União/Sinergia
|
28
|
Manda quem pode, obedece quem
tem juízo.
|
Subordinação ao poder
|
29
|
Faça o que digo, e não o que
eu faço.
|
Incoerência
|
30
|
Quando um não quer, dois não
brigam.
|
Permissão/Sensatez/Bom Senso
|
(fonte: http://penseoamanha.blogspot.com.br/2012/01/30-ditos-populares-e-seus-significados.html,
acesso em 01/04/2012)