Muitos têm se perguntado se o mundo está preparado para abarcar 7 bilhões de habitantes. Quanto a essa questão os especialistas são unânimes, ao afirmar que a única solução para nossos herdeiros chegarem ao final do século XXI a bordo de um planeta minimamente saudável reside na combinação de educação, uso inteligente de nossas riquezas e planejamento. Afinal, algumas estimativas apontam que o número de habitantes em 2100 chegue a impressionantes 15 bilhões. - por Luojie (CHINA)
PROPOSTA
Em 31/10/2011, nasceu
na Índia, em uma família muito pobre, o
sétimo bilionésimo habitante do planeta Terra. Em 1999, na Bósnia, em Visoko,
em uma pequena cidade próxima da
capital, nascia outro menino, Adnan Nevic,
o sexto bilionésimo habitante de nosso planeta, que veio ao mundo entre os escombros
provocados pela Guerra da Bósnia.
Portanto, o nascimento de ambos está separado
por 12 anos, exatos um bilhão de habitantes.
Para a data, os demógrafos do Population Reference Bureau, em Washington, previram que
o nascimento da criança aconteceria na
Índia porque o país possui o maior
número de nascimentos do planeta por ano: 27 milhões de pessoas.
A criança terá sido
recebida pelas dificuldades de um país
onde se sobrevive com menos de 2 dólares por dia e a água é a maior fonte de doenças e
morte.
Como estar preparado
para um mundo de 7 bilhões de pessoas? O
espectro de Malthus ronda outra vez a
humanidade?
Vamos aos textos:
Interessantíssimos por sinal!
TEXTO 1
Para quem acredita em
projeções demográficas, nasce amanhã o heptabilionésimo habitante da Terra.
Notícias como essa nos
fazem pensar em escassez, o que mobiliza o circuito cerebral do medo,
provocando uma enxurrada de previsões catastrofistas sobre o futuro do planeta.
Thomas Malthus é o mais célebre dos profetas cujos vaticínios nunca se
realizaram, mas de maneira alguma o único.
É claro que mais gente
significa mais pressão sobre o ambiente, mas daí não decorre que limitar o número
de nascimentos seja a melhor forma de lidar com o problema. Há uma corrente de
economistas, encabeçada por Julian Simon, que sustenta que quanto mais pessoas no
planeta, melhor. A tese é polêmica e contraintuitiva, mas vem acompanhada de
argumentos ponderáveis. Ao longo dos últimos
dois séculos, a população da Terra disparou e, com ela, o nível de
prosperidade. Nunca antes na história, o homem viveu e consumiu tanto. Mesmo assim,
os produtos, medidos em horas-trabalho, nunca foram tão baratos. A razão para
isso é que, com o saber e a tecnologia acumulados, fazemos muito mais com bem menos.
Para Simon, o que gera
a riqueza, em última análise, são ideias. A imaginação humana, diz, é o recurso
final e inexaurível. Um item como o cobre até pode acabar. Mas, à medida
que ele escasseia, seu preço aumenta, o que leva indivíduos inventivos a
desenvolver alternativas. Mais gente no planeta não só aumenta a probabilidade
de surgirem novas ideias como ainda cria o mercado de consumidores que faz com
que as invenções se paguem. Há outros benefícios, como garantir a viabilidade
de sistemas previdenciários. Se o problema é o aquecimento global, faz mais
sentido criar uma taxa sobre o carbono e esperar as soluções do que limitar a reprodução.
Mesmo que não compremos as teses de Simon pelo valor de face, elas tiveram o
mérito de exorcizar os fantasmas neomalthusianos do debate.SCHWARTSMAN, Hélio.
Quanto mais gente, melhor. Folha de S.Paulo.
Opinião, 30 out. 2011.
TEXTO 2
Na verdade, o espectro
de Malthus não foi exorcizado – ao
contrário, longe disso. O aumento de know-how não só permitiu obter mais saídas
para as mesmas entradas, mas também melhorou nossa capacidade de vasculhar a
Terra em busca de mais entradas. Essa primeira revolução industrial começou com
a utilização de combustíveis fósseis, particularmente o carvão, através das
máquinas a vapor de Watt.
A humanidade estava
presa a depósitos geológicos de energia solar primordial, armazenada na forma
de carvão, petróleo e gás para atender suas necessidades modernas. Aprendemos a
escavar minerais em locais mais profundos, pescar com redes maiores, mudar o
curso de rios para formar canais e represas, nos apoderar de mais hábitats de
outras espécies e derrubar florestas com
ferramentas mais poderosas para limpar grandes áreas. Inúmeras vezes, não
conseguimos mais por menos, mas ao contrário sempre, mais por mais, convertendo
ricas histórias de capital natural em altos fluxos de consumo atual.
Boa parte do que
chamamos de “lucro” – no sentido lato do valor agregado à atividade econômica –
é na verdade uma redução ou uma perda do capital natural. E embora o planejamento
familiar e os métodos contraceptivos tenham de fato assegurado um baixo índice
de fertilidade em muitas partes do mundo, a taxa de fertilidade geral permanece
em 2,6, muito acima da taxa de substituição. A África subsaariana – região mais pobre do mundo – ainda tem uma
taxa geral de fertilidade de 5,1 filhos por mulher, e a população global
continua a crescer a uma taxa de cerca de 79 milhões por ano, com o maior
aumento nos locais mais pobres. De acordo com previsões de fertilidade média da
Divisão de População das Nações Unidas, estamos em vias de atingir 9,2 bilhões de
pessoas na metade do século.
Se de fato continuarmos
a consumir uma quantidade desmedida de petróleo e tivermos falta de alimentos,
se reduzirmos as reservas fósseis de água do subsolo e destruirmos as florestas
restantes e devastarmos os oceanos e enchermos a atmosfera com gases do efeito
estufa, o que pode provocar descontrole no clima da Terra, com elevação do
nível dos oceanos, poderemos estar confirmando a maldição de Malthus, embora
tudo isso possa ser evitado. A ideia que knowhow aprimorado e redução
voluntária de fertilidade possam sustentar um crescente nível de ganhos para o mundo
parece correta, mas somente se futuras tecnologias nos permitirem economizar o
capital natural e não apenas encontrar maneiras mais inteligentes de reduzi-lo,
de forma mais barata e rápida.
Nas próximas décadas,
teremos que migrar para energia solar e energia nuclear segura, uma vez que ambas
fornecem, em princípio, energia limpa –
se compararmos com a energia atual –
adequadamente vinculadas a tecnologias aprimoradas e controles sociais.
O know-how terá de ser aplicado
a automóveis com alto rendimento (alta quilometragem por litro), agricultura com
reaproveitamento da água e edifícios verdes que reduzam fortemente o consumo de
energia. Teremos de repensar as dietas modernas e os projetos urbanos para conseguir
estilos de vida mais saudáveis que também rejeitem padrões de consumo intensivo
de energia. E teremos de ajudar a África e outras regiões a acelerar a transição
demográfica para níveis de fertilidade de substituição, a fim de estabilizar a
população global em torno de 8 bilhões.
Não há nada, num
cenário sustentável como esse, que viole as restrições de recursos ou disponibilidade
de energia da Terra. No entanto, ainda não estamos seguindo essa trajetória
sustentável, e os sinais do mercado atual não estão nos conduzindo por esse caminho. Precisamos
de novas políticas para movimentar o mercado de forma sustentável – por
exemplo, taxando o carbono para reduzir emissões de gases do efeito estufa –e
para promover progressos tecnológicos em economia de recursos e não em mineração
de recursos. Precisamos de novas políticas que reconheçam a importância de uma estratégia
de crescimento sustentável e mobilização global para consegui-la.
Será que Malthus foi
derrotado? Depois de dois séculos, realmente ainda ninguém sabe.
SACHS, Jeffrey. A volta
do espectro de Malthus. Scientific American
– Brasil. Duetto. Edição 77, out. 2008.
TEXTO 3
Um menino pobre que
deve nascer em outubro, em Uttar Pradesh, na Índia, imprimirá um novo marco na história:
será o sétimo bilionésimo habitante do planeta. O expresso Terra está lotado,
mas é preciso dar “mais um passinho à
frente” para acomodar 9 bilhões em 2030.
Como vamos fazer isso?
O país é o sétimo mais
densamente povoado do mundo e um dos mais ameaçados pelas mudanças climáticas:
em um território de 144 mil km2 (equivalente ao do estado do Amapá) vivem 164
milhões de pessoas.Se o gênio da lâmpada de Aladim aparecesse para o economista
carioca Sérgio Besserman Vianna, presidente da Câmara Técnica de
Desenvolvimento Sustentável da Prefeitura do Rio de Janeiro, e concedesse a
realização de um desejo em prol da sustentabilidade do planeta – um apenas –, o
pedido seria o seguinte: “Acesso à informação e ao conhecimento sobre
planejamento familiar para mulheres. Não há nada mais capaz de mudar o mundo do
que a consciência das mulheres sobre o número de filhos que desejam criar”.
Não por acaso, uma
mudança global será deflagrada por um filho que deverá nascer em 31 de outubro
de 2011, na Índia. Nesse dia, os demógrafos do Population Reference Bureau, em
Washington, projetam a chegada de um menino especial, filho de uma família pobre
do Estado de Uttar Pradesh: o sétimo bilionésimo habitante do planeta. Todas as
estatísticas convergem: o país tem o maior número de nascimentos no mundo – 27 milhões
por ano –, a zona rural de Uttar Pradesh é o seu motor demográfico e a incidência
natural de nascimentos por sexo, na região, favorece os meninos. Em 2018, a Índia
deterá o controvertido título de país mais populoso do mundo, à frente da
China.
Não haverá uma estrela
guia no céu para anunciar a importância simbólica desse nascimento. A ultrapassagem
do limiar de 7 bilhões vem sendo aguardada com expectativa por todos os
demógrafos que já leram as previsões de Thomas Malthus (1766-1834), o economista
britânico que, no fim do século XVIII, advertiu que o crescimento exponencial
da população mundial não poderia ser sustentado pelo crescimento aritmético da produção
de alimentos – lançando a ameaça de uma grande
crise de abastecimento à frente.
Graças a Malthus, a
economia ganhou a alcunha de “ciência
lúgubre” (dismal science) e o público logo se acostumou com previsões furadas.
O genial Malthus errou feio ao subestimar o poder da inovação tecnológica que expandiu
a produção de maneira inimaginável. Mas acertou ao sugerir que o mundo não é
elástico.
O planeta não dispõe de
recursos infinitos para sustentar um crescimento ilimitado. Jogar essa carga de
insustentabilidade nas costas da inventividade humana também é arriscado,
sobretudo quando a população aumenta 80 milhões a cada ano.
A noção de limite
sugerida por Malthus – ou “capacidade de
suporte”, em linguagem moderna – levou outro economista britânico, Kenneth
Boulding (1910-1993), 100 anos depois, a comparar a Terra não a um trem, mas
a “uma
astronave com recursos limitados, rodando em torno do Sol”, e a
ironizar: “Quem acredita que o
crescimento exponencial pode durar para sempre num mundo finito é louco ou
economista”.
ARNT, Ricardo. 7 bilhões: expresso Terra lotado Revista Planeta <www.terra.com.br/revistaplaneta/edicoes/465/artigo221013-6.htm>.
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