É num palco de infinitas
possibilidades de interpretação que circulam os discursos chargísticos. Eles
assumem importante papel na construção e legitimação de significados, pois
carregam visões de mundo formadoras ou conformadoras de opinião pública.
Estreitamente relacionada à
prática jornalística, a charge é um gênero de discurso que não está isento de
influências sócio históricas. Todo o processo de elaboração das charges tem por
base ou fonte de inspiração outros textos e discursos, principalmente notícias
veiculadas por jornais impressos e outros meios de comunicação.
Tecido com fios de um humor
irreverente, crítico, aparentemente inofensivo, o discurso da charge desvela o
cotidiano da sociedade, valores, experiências, fraquezas, misérias e grandezas
marcadamente humanas. Por isso, as charges são potencialmente decisivas no
processo de construção e veiculação de ideologias.
Identificadas pela mídia como peças de humor
gráfico, as charges comportam a articulação do verbal (palavra) com o
não-verbal (imagem) que constrói múltiplas direções de leitura, associando
recursos como a ironia e o desenho caricatural. Outro aspecto importante é que
elas costumam ser tão ricas e densas quanto outros textos opinativos, como
crônicas e editoriais, que transmitem um posicionamento crítico sobre
personagens e fatos políticos.
Assim, a compreensão dos discursos das
charges requer um entendimento contemporâneo ao momento em que se estabelece a
relação discursiva entre interlocutores, pois somente assim é possível perceber
as estratégias utilizadas pelos vários atores sociais envolvidos no contexto de
produção
Analise a charge abaixo
Observe a charge abaixo e veja como o
artista fez a exposição do tema globalização, que afetou até o modo de pedir
esmolas nas cidades turísticas, que recebem cada vez mais, visitantes de todas
as partes do mundo. Obrigando, dessa maneira que o pedinte aprenda como pedir em vários
idiomas.
A compreensão da crítica feita pelo chargista dependerá dos conhecimentos de mundo do leitor e das relações que faz com o tema da charge, o que estabelecerá cumplicidade entre autor e leitor. Dessa maneira, para interpretar uma charge, é importante que o leitor tenha conhecimento prévio do assunto abordado e conheça as circunstâncias e os fatos retratados. Além do contexto em que foi elaborada.
Você deve lembrar, que na
análise de charges é preciso dirigir atenção para as estratégias, muitas vezes
silenciosas e sutis, que insinuam leituras e escrituras no fio discursivo. Em
síntese, observar os jogos cênicos, as entrelinhas, o explícito e o implícito,
o dito e o não-dito. O leitor precisa ter sensibilidade para perceber os
efeitos de sentido subjacentes ao texto.
Aprenda a entender o humor nas charges
É importante que você observe:
o humor contido na charge muitas vezes mascara a intenção ideológica com o estímulo
ao riso. Ao proporcionar uma releitura das notícias, ao mesmo tempo em que
sugere, a charge esconde significados. É neste jogo de sentidos que o discurso das
charges se constrói como um mosaico de já-ditos, de diferentes perspectivas e
visões de mundo, como uma trama tecida a partir de inscrições históricas,
sociais e ideológicas que reclamam novos significados.
O humor nas tirinhas é baseado
na ambiguidade, ou seja, na dualidade de sentidos. Isso significa que uma frase
pode ter um significado diferente daquele que seria óbvio, assim é essencial que você
tente encontrar qual é o sentido que o autor quis dar à frase.
Saiba que não há nada de excessivo na charge!
Todo o conjunto é importante para entender a crítica do autor. Assim, análise
procurando detalhes que te sirvam como pista para responder a questão. Lembre-se,
também, de se atentar à fonte, local e a data de publicação, às questões
sociais, políticas, culturais e ideológicas que envolvem o contexto da charge,
qual é o público-alvo. Relacione, também, a imagem e o texto. Pois, tudo isso o
ajudará a contextualizar os fatos e a entender
o objetivo e a crítica da charge
Exercícios { a partir de charges} resolvidos
Discutiu-se muito, no segundo
semestre de 2015, no Brasil, a problemática do aumento dos impostos devido ao
deficit de 30 milhões nas contas públicas. Nesse debate é possível visualizar
recorrências a episódios da história política brasileira, conforme observamos
na charge a seguir:

A charge faz menção:
A) à Conjuração Baiana, evento
que também ficou conhecido como Rebelião dos Alfaiates, na qual os revoltosos,
além de questionarem os altos impostos, buscaram fundar um governo monárquico
no Brasil independente de Portugal.
B) à marca do pensamento
católico no contexto do Brasil Colonial, que deu base ideológica para criminalizar
e punir os políticos corruptos.
C) à Revolução Pernambucana,
que eclodiu devido ao aumento de impostos que foi decretado com a chegada da
família real portuguesa ao Brasil em 1808. Esse movimento também foi marcado
pela luta pelo fim da escravidão.
D) à restrição da liberdade de
imprensa, no contexto do século XIX, que dificultou a emergência de movimentos
contrários à excessiva cobrança de impostos pela Coroa Portuguesa. E) à
Conjuração Mineira, revolta que ocorreu em Minas Gerais devido à derrama declarada
pela Coroa Portuguesa e aos preços abusivos que eram cobrados pelas mercadorias
importadas.
E) à Conjuração Mineira,
revolta que ocorreu em Minas Gerais devido à derrama declarada pela Coroa
Portuguesa e aos preços abusivos que eram cobrados pelas mercadorias
importadas.
RESOLUÇÃO:
- A alternativa E está correta, pois a charge mostra Tiradentes, personagem central da memória da Conjuração Mineira, que foi punido com o enforcamento.
- A alternativa A está incorreta, pois além de a charge fazer menção direta a Tiradentes, personagem central da memória da Conjuração Mineira, a afirmação de que a Conjuração Baiana buscava um governo independente e monárquico é falsa, uma vez que esse movimento tinha base republicana.
- A alternativa B está incorreta, pois a charge não faz referência à punição de um político corrupto, mas à punição de um revoltoso que lutou contra a cobrança excessiva de impostos pela Coroa Portuguesa.
- A alternativa C está incorreta, pois além de a charge fazer menção direta a Tiradentes, personagem central da memória da Conjuração Mineira, a afirmação de que a Revolução Pernambucana foi marcada pela luta pelo fim da escravidão é falsa, uma vez que não houve um consenso entre os líderes do movimento sobre esse ponto.
- A alternativa D está incorreta, pois a charge não faz menção à restrição da liberdade de imprensa; além disso, é incorreto afirmar que a restrição do período impediu a eclosão de movimentos.
Questões UEMP 2016/17
Leia a charge a seguir e
responda às questões 19 e 20

19. Assinale a alternativa
correta.
a) A charge, para fazer sua
crítica, de forma humorada, contrapõe o discurso do senso comum, a partir do
qual pessoas influentes têm privilégios, e o discurso religioso, segundo o
qual, no céu, todos são tratados como iguais.
b) O texto critica a concessão
de privilégios, pela sociedade, a figuras religiosas e políticas, que deveriam
ser tratadas com descaso em qualquer lugar, já que políticos e religiosos devem
servir à sociedade, e não o contrário.
c) O texto critica a concessão
de privilégios que é dada a políticos e a seus familiares em contextos
religiosos, como o céu.
d) O texto critica a relação
entre discurso religioso e discurso político em contexto brasileiro.
e) O texto critica o fato de o
filho de um governador e o filho de um ajudante de pedreiro serem tratados como
iguais, quando aquele deveria receber um tratamento diferenciado.
20 Em relação à charge,
assinale a alternativa incorreta.
a) O uso do artigo indefinido para fazer referência
aos sujeitos da crítica – “um governador” e “um ajudante de pedreiro” – dá à
charge um aspecto atemporal. Desde que o problema social retratado se mantenha,
o texto continuará atual.
b) Na fala “Tanto faz, aqui
todo mundo é igual!”, a expressão “todo mundo” retoma somente “o filho de um
governador” e “o filho de um ajudante de pedreiro”, referentes mencionados na
fala do anjinho.
c) Na fala “Tanto faz, aqui
todo mundo é igual!”, a expressão “todo mundo” faz referência a todas as
pessoas, de forma geral, o que inclui tanto o filho do governador como o do
ajudante de pedreiro.
d) Na fala “aqui todo mundo é
igual”, o “aqui” é um advérbio que indica o local de onde fala a personagem, o
qual só pode ser identificado com o auxílio da linguagem não verbal.
e) Para dar sentido à charge,
é preciso interpretar tanto a linguagem verbal como a não verbal e articulá-las
a conhecimentos de mundo, como o de que, na sociedade atual, as pessoas são
diferenciadas pela sua classe social ou nível de poder
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