terça-feira, 19 de junho de 2012

A sustentabilidade que eu quero!



Às vésperas da Rio+20, lembremos que jamais existirão soluções universais para combater a mudança climático—nosso mundo é pleno de diferenças
Por Marília Moschkovich, do Mulher Alternativa


Em 2012, a Conferência Rio+20 promete trazer ao debate sobre desenvolvimento sustentável ativistas, militantes, líderes políticos e governos. Juntos, tentarão dar conta do complexo e difícil quebra-cabeça contemporâneo: preservar o meio ambiente. Há quem diga que só a extinção do capitalismo poderia salvar a humanidade de uma hecatombe impulsionada pelo uso predatório de recursos naturais. Há quem defenda que, mesmo dentro deste sistema produtivo, é possível criar desenvolvimento sustentável e manter — ou melhorar — nosso padrão de vida e conforto.

Eu penso que, com ou sem capitalismo, as estruturas sociais é que farão a diferença na vida das pessoas. Começo por um caso simples: numa cidade, o espaço não é homogeneamente distribuído entre os habitantes. Os pedaços de terra, casas, apartamentos são muito diferentes entre si e acarretam diferentes consequências na vida de seus moradores. Em São Paulo, quem mora no Jardim Pantanal não poderia, por livre e espontânea vontade, mudar-se para um apartamento na Vila Madalena. O Jardim Pantanal fica boa parte da época de chuvas alagado (ironia?) e a Vila Madalena não. As mudanças climáticas influenciam na quantidade de precipitação, no regime de rios e lagos. Seus efeitos não são os mesmos num bairro e no outro.

Pra ficar em outro exemplo óbvio, o aumento da amplitude térmica sempre será mais tranquilo para quem pode comprar casacos quentinhos, tem onde morar está bem alimentado e pode ligar o ar condicionado.
O fato é que os próprios mecanismos para driblar os efeitos das mudanças climáticas correm o sério risco de converter-se em mercadorias. Nisso, estou com os que atacam esta questão pela raiz: numa estrutura capitalista de classes onde recursos e grana não são distribuídos igualmente, será sempre impossível implementar soluções ambientais totalmente democráticas.

Contudo, há ainda outros tipos de desigualdade social que parecem interferir diretamente na distribuição desigual de impactos das mudanças climáticas. Com o racismo estrutural no Brasil, por exemplo, é fácil prever que a brancos e negros sofram de forma distinta este processo. Mesmo que haja políticas públicas sólidas de amparo a grupos sociais desprivilegiados, o tratamento dado pelo Estado e seus agentes (sejam eles policiais, funcionários públicos, políticos etc.) não será muito igualitário. O racismo estrutural é anterior, está na forma com que moldamos nossas visões de mundo. Numa situação limite, em quem confiar? De quem desconfiar?

A desigualdade de gênero me parece, também é brutal. Quando há uma enchente, quem é que limpa a casa depois? Quem é que precisa se deslocar e abandonar a família para obter trabalho semiescravo nas grandes cidades? Quando esses maridos se vão, quem é que fica com os filhos e cuida da propriedade, da colheita, da água? O impacto das mudanças climáticas varia, ainda, entre homens e mulheres (embora “gênero” não diga respeito apenas a estas duas formas de classificar pessoas). Buscar trabalho, prover comida e conforto, trabalhar na lavoura, fazer jornadas triplas, quádruplas. Cuidar dos recursos e da saúde das crianças. Tudo isso se transforma substancialmente num contexto de mudanças climáticas.


Frequentemente esquecemo-nos, ao elaborarmos políticas públicas, que não somos uma sociedade igualitária. Estas políticas costumam ser elaboradas tendo em mente o “ser humano universal”. O problema é que, de universal, esse ser humano não tem nada: é homem, branco, urbano e rico. Sem entendermos as especificidades cotidianas impostas pela estrutura social a diferentes grupos, as políticas ambientais só poderão salvar aqueles mesmos que as elaboram.


Secretário-geral da ONU cobra “coragem política” na Conferência


Uma carta de intenções representando os objetivos do mundo a respeito do desenvolvimento sustentável, semelhante às Metas do Milênio, pode ser o máximo que a comunidade internacional vai conseguir produzir na Rio+20. A possibilidade de este ser o desfecho da Conferência, que começa no dia 13 no Rio de Janeiro, ficou clara em entrevista coletiva concedida nessa quarta-feira 6, em Nova York, pelo secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon.
Na conversa com os jornalistas, transmitida pela internet, Ban se disse “cautelosamente otimista”, mas deixou transparecer sua preocupação com a incapacidade dos países de chegar a um acordo sobre as diretrizes do desenvolvimento sustentável. Assim, fez um chamado aos negociadores que estarão no Brasil. “Acredito que os países estão seriamente engajados nas negociações, mas é preciso ter claro que, se perderem esta oportunidade, vão ter de esperar muito tempo para conseguir outra”, disse Ban.
A chance de a oportunidade ser perdida não é pequena. Normalmente, em conferências como a Rio+20, os chefes de Estado comparecem apenas para assinar e referendar documentos produzidos previamente por suas missões diplomáticas. Na Rio+20, este não deve ser o caso, pois há muito a ser discutido. Só há acordo sobre 20% do texto principal de conclusão da Conferência, e o restante precisará ser definido pelos negociadores até 15 de junho. O que não for resolvido pode ser discutido pelos chefes de Estado, mas este caminho também não é auspicioso. Líderes importantes como Barack Obama (Estados Unidos), Angela Merkel (Alemanha) e David Cameron (Reino Unido) não estarão no Rio de Janeiro. Assim, disse Ban, é importante que os chamados Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (SDG, na sigla em inglês) sejam definidos, com termos “claros” e “mensuráveis”.
Os SDGs, se firmados entre os participantes da Rio+20, devem ser criados nos moldes dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (também conhecidos como Metas do Milênio). Estas metas funcionam bem, pois estabelecem problemas genéricos, como “erradicar a pobreza”, e passos concretos para lidar com eles, como “reduzir a um quarto, entre 1990 e 2015, a proporção da população com renda inferior a US$ 1 por dia”. Assim, muitos governantes conseguiram melhorar as condições de vida de sua população com base nas Metas do Milênio. O raciocínio é que, com o desenvolvimento sustentável, poderia ocorrer a mesma coisa.
Em recente artigo, a diretora de Assuntos Sociais e Ambientais do Ministério das Relações Exteriores da Colômbia, Paula Caballero Gómez, defendeu os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Segundo ela, se desenvolvidos adequadamente, os SDGs “sem dúvida terão um papel fundamental de guias para a sustentabilidade”, pois envolvem “métricas” e permitem que cada ação seja mensurada. De acordo com ela, os objetivos devem tratar de temas como segurança alimentar, gestão de recursos hídricos, desenvolvimento de energias sustentáveis e a busca por eficiência no uso de recursos naturais, entre outros.
Se os chamados Objetivos de Desenvolvimento Sustentável forem oficializados na Rio+20, o mundo estaria diante de uma nova abordagem a respeito do tema. Esses objetivos poderiam substituir outras formas de negociação fracassadas, como a estipulação de metas por grupos de países, como as existentes no Protocolo de Kyoto, descumpridas sistematicamente. Na coletiva desta quarta, Ban Ki-moon afirmou que ainda não há definições a respeito do prazo que os países teriam para cumprir as metas. Poderiam ser “cinco, dez ou mais anos”, de acordo ele. Segundo o secretário, é importante que os negociadores se empenhem. “Temos que ser práticos. Este mundo tem limites em termos de recursos e temos de usá-los da melhor forma. É preciso sabedoria política e coragem política para colocar as metas do desenvolvimento sustentável em andamento”, disse.
Fonte:
Por 
José Antonio Lima, Carta Capital


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