terça-feira, 29 de setembro de 2015

Análise da Obra Agosto - Vestibular Medicina IMEPAC - Araguari 2016


Aulas de Redação para o  vestibular IMEPAC/Araguari 2015/16 - Turmas no máximo 10 alunos - correção individual. Em Uberlândia

Agosto e suas características

Agosto foi publicado em 1990 e caracteriza-se principalmente por se tratar de uma narrativa de cunho policial, de contar com um grande número de personagens que possuem ligações entre si, além do clima de mistério e investigação presente do início ao final da obra.

Para maior aproximação com o romance, julgamos necessário uma breve sinopse de Agosto:

A história se resume no assassinato de um empresário ocorrido na madrugada de 1 de agosto de 1954, no quarto de um luxuoso duplex no Rio de Janeiro. A pouco quilômetros dali o tenente Gregório Fortunato, chefe da Guarda pessoal do Presidente Getúlio Vargas, começa a arquitetar outro crime: o atentado ao jornalista Carlos Lacerda, que terminaria vinte dias depois, na maior tragédia política do Brasil. O personagem central da trama é um delegado de Polícia chamado Mattos, muito depressivo e incorruptível, atormentado por uma úlcera gástrica e duas namoradas. Mattos sai obsessivamente atrás de provas para solucionar os dois crimes - o assassinato de Carlos Lacerda e do empresário-, sendo que os dois crimes possuíam um fato incomum: o principal suspeito era um homem negro.

Neste romance podemos identificar alguns pontos levantados por Silva (1980) quando ele caracteriza a obra do autor como a condenação de instituições, a vitória dos bandidos, a violência urbana e o uso de uma linguagem vulgar utilizada, visando o lado trágico das metrópoles, além de servir para o autor manifestar todo o seu repúdio perante a realidade da qual se ocupa.
Silva continua, destacando que a obra literária de Rubem Fonseca é realista, pois se concentra em temas extraídos de grandes concentrações urbanas e violentas - no caso de Agosto, já que a história se passa no Rio de Janeiro.
Neste romance Rubem Fonseca funde texto e contexto, apresentando um diagnóstico da sociedade em que vive. A trama dos personagens se funde com um momento de grande importância para o Brasil, é o autor aproveitando-se da realidade, do seu testemunho, transformando-o em uma forma literária. ``A literatura não é espelho, escritor não é fotógrafo. Ao invés de reproduzir, sua obra transfigura, revela'' (Silva, 1980: 14).

No livro “Agosto” de Rubem Fonseca, o autor realiza um estudo imparcial dos conflitos sociopolíticos do contexto histórico em que a obra pertence, especificamente entre 1950 e 1954. Assim, acaba tornando-se um dos mais importantes romancistas contemporâneos. Um dos traços principais do livro é o intenso paralelismo entre a realidade e a ficção, engajados em uma linguagem simplificada e coloquial, 


1. Autor: Rubem Fonseca 

Rubem Fonseca é, sem dúvida, um grande escritor brasileiro, tendo revolucionado a história curta no país. Com uma amplidão de experiências e observações que parece inesgotável, tem como matéria-prima os dois extremos da nação: os miseráveis e os homens do poder. 

O grande tema de seus contos e romances é a violência. A violência que percorre as ruas brasileiras, numa espécie de guerra civil não declarada entre ricos e pobres. A guerra se travou internamente e Rubem Fonseca soube revelá-la. 

O que confere maior verossimilhança ainda a seus relatos são a técnica narrativa e a linguagem. O escritor carioca sente-se à vontade nos textos em primeira pessoa, o narrador sendo ao mesmo tempo o protagonista. Mas para tipo social existe uma linguagem distinta. O policial tem o seu código, o seu estilo, e assim o político e assim o advogado, numa multiplicidade linguística verdadeiramente assombrosa para um só autor. 

2. Introdução ao tema: 

Com um pé na ficção e outro na História, Rubem Fonseca faz deste romance uma narrativa policial. A História não é só o pano de fundo. Transcorrendo em agosto de 1954, o livro apresenta os vultos históricos daqueles episódios, que culminaram com o suicídio de Getúlio Vargas, como se fossem protagonistas do próprio romance. Assim figuras como Getúlio Vargas, seu irmão Benjamim, a filha Alzira, o polêmico tenente Gregório Fortunato, ministros [Tancredo Neves, os militares Zenóbio de Castro e Mascarenhas de Moraes] o brigadeiro Eduardo Gomes, só para citar alguns, têm voz e ato no livro. 

O narrador apresenta com desenvoltura diálogos, ações, pensamentos, dramas e dúvidas de personagens como estes. Simultaneamente à narrativa da crise que levaria Getúlio ao suicídio, provocada pela tentativa de assassinato de Carlos Lacerda, o autor desenvolve a história ficcional ao redor do personagem central do romance: o comissário Alberto Matos. 

3. Enredo: 

Agosto de 1954, caos e escândalos políticos aparecendo diariamente nas páginas dos jornais. Getúlio Vargas, Presidente da República, começa perder sua popularidade. O povo está dividido entre o Presidente e Carlos Lacerda, jornalista implacável que diz desmascarar o governo brasileiro. Gregório Fortunato - chefe da guarda pessoal de Vargas - consciente de que o jornalista constitui uma ameaça, planeja um atentado contra a sua vida. 

Outro crime acontece: o assassinato de um milionário em sua própria residência, um luxuoso apartamento duplex, em bairro de classe média alta, na cidade do Rio de Janeiro. São crimes que cercam a vida do Comissário Mattos. Sofrendo de terrível úlcera no estômago, envolvido com duas namoradas, o Comissário suspeita que a mão negra que arma os pistoleiros da Rua dos Toneleros em Copacabana, onde ocorre o atentado a Lacerda, deve ser a mesma que mata o milionário na cama. 

O atentado a Lacerda fere um coronel da Marinha; explodem manifestações na imprensa e nas ruas. O povo exige explicação do governo. Gregório Fortunato é preso e começa a ser diariamente interrogado. O presidente perde progressivamente sua base política, encontra-se numa situação dúbia. Se renunciar, será ainda mais criticado pelo povo; se permanecer no poder, terá que enfrentar a fúria da UDN e de muitos militares importantes que já não o apóiam. 

O Comissário tem uma única pista do assassinato do milionário: um anel dourado e alguns pelos de negro no sabonete do banheiro. Suas namoradas, Salete e Alice, no seu pé, perturbam-no. Alice, casada com um rico empresário, Pedro Lomagno, desabafa seu drama: diz que seu marido tem uma amante, Luciana Aguiar, viúva de Paulo Gomes Aguiar, o homem cujo assassinato é investigado por Mattos. O Comissário, por sorte acaba ouvindo algo de que realmente suspeita: o fato de Pedro Lomagno ter um amigo negro, chamado Chicão. 

Após descobrir que o anel não pertence a Gregório Fortunato, a suspeita recai sobre Chicão. O raciocínio é simples. Matar o amigo para ficar com a mulher e a fortuna. Pedro sente a pressão do Comissário e manda Chicão eliminá-lo. 

Enquanto isso, a situação se torna cada vez mais crítica par o Presidente. A câmera mostra os xadrezes entupidos. Vargas marca uma reunião com os ministros no Palácio do Catete. A reunião estende-se à madrugada. Cada ministro faz a sua análise da situação política nacional. Ao final, o Presidente, cansado, solitário e deprimido, sobe para a ala residencial do Palácio e decide 'sair da vida para entrar na História'. Um tiro no peito rouba-lhe a vida e convulsiona o país. O suicídio é encarado como saída derradeira para a situação catastrófica. 

Com o estômago ardendo, Mattos, após voltar do velório de Vargas, vai para seu apartamento para se encontrar com Salete. Momentos mais tarde, quando ambos se encontram deitados, percebem a presença sorrateira de um negro alto e forte, que identificam como Chicão. Mattos entrega-lhe o anel. Chicão não poupa nem a moça.

Ao final do romance, temos uma quantidade de elementos: a corrupção policial, as negociatas políticas no Senado e na Câmara, a compra de favores. A derrota do único honesto, o Comissário Mattos, é sinal da impossibilidade de existir algum resquício de honestidade naquele meio. A última página do livro diz que 'a cidade teve um dia calmo', apenas dois dias após a turbulência da morte de Getúlio Vargas. Afinal, esta é uma cena brasileira: as convulsões ocorrem, mas tudo sempre volta à calma com o se nada tivesse acontecido. 

Obs.:Fato histórico 

Em relação aos acontecimentos políticos do ano em questão, o livro resgata o início do fim do já desgatado governo Vargas e das corrupções que nele ocorriam. Este início foi marcado pelo famigerado atentado da rua Toneleros, na qual o alvo era o jornalista Carlos Lacerda, maior opositor ao governo de Getúlio Vargas. Lacerda sai apenas ferido do atentado, enquanto que o major Vaz, da Aeronáutica, que o acompanhava, morre. A partir de então, unem-se forças de todos os lados contra Getúlio Vargas, responsabilizando-o pelo atentado. A aeronáutica resolve fazer uma investigação paralela à da polícia e consegue descobrir e prender o atirador, Alcino, o motorista do carro e Climério, subchefe da segurança do Palácio do Catete. Através deles chegam ao mandante do crime, Gregório Fortunato, o Anjo Negro, chefe da guarda pessoal de Getúlio Vargas. Com isto, as forças armadas, Aeronáutica, Marinha e Exército, juntamente com a imprensa e a opinião pública, dirigida pela mesma, forçam de todo o jeito a renúncia de Vargas da Presidência da República. Acuado e sem apoio, Vargas apela para a única saída honrosa para a crise, o suicídio, onde em sua carta-testamento escreveu que saía da vida para entrar na história. 

4. Comentário crítico: 

Os primeiros fatos da obra Agosto são reais [crime da Rua Toneleros e o suicídio de Vargas]. Contudo, o principal personagem, o Comissário Mattos, é fictício. O Comissário, na verdade, é o 'alter ego' do autor Rubem Braga. A obra é narrada, em terceira pessoa, do ponto de vista do ingênuo, porém inteligentíssimo, Comissário.

Rubem Braga não tece críticas à situação da época; ele, simplesmente, narra os fatos do ponto de vista de alguém correto, vítima de brutalidades políticas e de corrupção policial. O autor entra na história que mancha o país e, por isso, cria este 'outro eu' para atingir seu objetivo. Visando dar conotação fictícia à história que envolveu fatos reais, Fonseca cria outros personagens, justamente para dar vida ao seu 'alter ego' . É o caso de suas namoradas. A obra, além de tudo, reflete ganâncias e obsessão pelo poder. Apesar de complexa realidade que foi a década de 50, Agosto é uma obra objetiva e fácil compreensão. 

Com este livro, o autor fornece uma análise imparcial dos conflitos políticos e sociais do contexto histórico em que a obra está inserida [1950-1954] e acaba despontando como um dos mais importantes romancistas contemporâneos. Um dos pontos característicos dessa obra é o intenso paralelismo entre os fatos reais e a ficção que, somados a uma linguagem simples e coloquial, proporcionam ao leitor uma leitura agradável.

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