Análise
da obra Dois Irmão de Milton Htoum
Dados
Biográficos Nasceu em Manaus, AM, em 19/081952. Professor, tradutor, contista e
romancista colecionador de prêmios literários. Até o momento todos os seus
livros são premiados: Relato de um certo Oriente (1990); Dois irmãos (2000); e
Cinzas do Norte (2005) receberam o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro,
como melhores romances do ano, sendo que o último recebeu também o Prêmio
Portugal Telecom Literatura. São livros que já venderam mais de 200 mil
exemplares e foram traduzidos em oito países. Sobre o livro mais recente:
Órfãos do Eldorado (2008) ainda não temos notícia de premiação, mas já foi
eleito pelo público, vendendo mais de 10 mil exemplares logo após o lançamento.
Em suas obras, o autor costuma falar de lares desestruturados com uma leve
tendência política. Em Cinzas do norte, por exemplo, seu romance mais
abertamente político, inicia-se no mesmo registro desencantado que termina Dois
irmãos. É um romance com uma linguagem seca e objetiva, que conta uma das
possíveis estórias de uma geração que sonhou um mundo mais justo apenas para
encontrá-lo em cinzas na sua maturidade. Quanto ao estilo, é conhecido por
misturar experiência e lembranças pessoais com o contexto sociocultural da
Amazônia e do Oriente. Sobre o primeiro livro, assim ele explica: “No Relato de
um certo Oriente há um tom de confissão, é um texto de memória sem ser
memorialístico, sem ser autobiográfico; há, como é natural, elementos de minha
vida e da vida familiar. Porque minha intenção, do ponto de vista da escritura,
é ligar a história pessoal à história familiar: este é o meu projeto. Num certo
momento de nossa vida, nossa história é também a história de nossa família e a
de nosso país (com todas as limitações e delimitações que essa história
suscite). Descendente de imigrantes libaneses, o autor já morou em diversas
cidades, além de Manaus, sua fonte de inspiração. Aos 15 anos muda-se para
Brasília, onde concluiu os estudos secundários, e depois para São Paulo, onde
se fez Arquiteto pela USP. Em 1980 mudou-se para a Espanha como bolsista do
Instituto Ibero americano de Cooperación. Em seguida passa a viver em Paris
onde fez sua pós-graduação Na Universidade de Paris III. Retorna à Manaus, onde
passa a lecionar literatura francesa e brasileira. Em fins da década de 1990 volta
à São Paulo para concluir seu doutoramento em Teoria Literária na USP, onde se
encontra estabelecido.
Disponível em São Paulo: Cia. das Letras, 2000. » Cinzas do
Norte, 2005 » Órfãos do Eldorado. São Paulo: Cia. das Letras, 2008
Obras
» Relato de um
Certo Oriente (romance). São Paulo: Cia. das Letras, 1990.
» Dois Irmãos
(romance).
O romance tem, como centro do enredo, a
história de dois irmãos gêmeos - Yaqub e Omar, o Caçula - e suas relações com a
mãe, o pai e a irmã. Na mesma casa, localizada em bairro portuário de Manaus,
moram Domingas, a empregada da família, e seu filho Nael, um menino cuja
infância é moldada pela condição de filho da empregada. Na tentativa de buscar
a identidade de seu pai entre os homens da casa, Nael narra os acontecimentos
que lá se passam, testemunhando vingança, paixão e relações arriscadas. É por
meio de seu ponto de vista que o leitor entra em contato com Halim, o pai,
sempre à espera da decisão mais acertada diante dos abismos familiares; com a
desmedida dedicação da esposa Zana ao filho preferido Omar; com o trauma de
Yaqub, o filho que, adolescente, foi separado da família; com a relação amorosa
entre Rânia e seus irmãos; com a vida simples e cheia de renúncias da mãe
Domingas. A história se inicia com a volta de Yaqub, que, por ordem do pai,
fora enviado, com treze anos, ao sul do Líbano um ano antes da 2ª Guerra, no
intuito de aliviar os atritos entre os irmãos. Considerado frágil e
demasiadamente problemático, Omar fica no Brasil, solidificandose, assim, a
superproteção iniciada na infância.
Cinco anos
mais tarde, a volta de Yaqub marca a existência de uma nova pessoa: um jovem
calado e cheio de mistérios que escondiam os segredos de sua permanência fora
do país. Sozinho, segue para São Paulo, onde, recusando a ajuda financeira dos
pais, forma-se em Engenharia Civil e se casa de forma misteriosa, comunicando a
família por meio de um telegrama. Enquanto Yaqub trilhava os caminhos do
sucesso, Omar se perdia em bebedeiras, noitadas e sucessivos escândalos. Ao ser
enviado a São Paulo para tentar obter o êxito do irmão, descobre que ele se
casou justamente com a jovem Lívia - paixão de ambos desde a infância e
causadora de uma séria briga entre os dois. Faz desenhos obscenos nas fotos do
álbum de casamento do irmão, apertando ainda mais os laços de inimizade entre
os dois. Em seguida, rouba dinheiro do irmão e foge para os Estados Unidos.
Morre Halim e,
pouco tempo depois, Omar faz amizade com o indiano Rochiram, que pretendia
construir um hotel em Manaus. Zana, na tentativa de unir os filhos e desejosa
de que abrissem uma construtora, escreve a Yaqub, que vai à cidade a negócios,
ignorando a participação do irmão. Ao sentir-se traído, Omar espanca Yaqub,
mandando-o para o hospital. Inicia-se, então, uma verdadeira caçada que se
encerra com a prisão e condenação do Caçula a dois anos e sete meses de
reclusão. O indiano Rochiram, vendo seus negócios fracassarem, exige que a irmã
dos gêmeos, Rânia, venda a casa em que vivem para pagamento das dívidas. Surge,
assim, no local, a Casa Rochiram, uma loja de quinquilharias importadas de
Miami e Panamá. Nael fica com um pequeno quadrado no quintal. Durante todo o
desenrolar da história, Nael lutava ao lado da mãe, assoberbado, sem muito
tempo para os estudos. Sente-se, com isso, injustiçado.
Nunca desistiu
de arrancar dos membros da família a identidade de seu pai, que sabia estar em
um dos gêmeos. No jogo de interditos, juntando os cacos do passado, Nael se
empenha em descobrir a verdade e, somente após trinta anos, quando quase todos
já estão mortos, é que parece motivado a olhar para as personagens.
Características
da obra
Dois Irmãos,
romance de Milton Hatoum, narra história de ódio familiar. Escrito em estilo
enxuto e ao mesmo tempo repleto de sutilezas, o romance narra a tumultuada
relação de ódio entre dois irmãos gêmeos, numa família de origem libanesa que
vive em Manaus O romance.
Dois Irmãos,
publicado em 2000, rompeu um silêncio de 11 anos que Milton Hatoum vinha
mantendo desde Relato de um Certo Oriente, sua estreia como romancista. O autor
costuma dizer, em entrevistas, que “cada livro nos ensina a escrever”. Se sua
afirmação for levada ao pé da letra, nenhum livro lhe ensinou tanto quanto Dois
Irmãos. Nessa obra, Hatoum demonstra grande domínio da técnica da ficção, num estilo
mais enxuto que o da primeira obra e, ao mesmo tempo, repleto de nuanças e
sutilezas.
A trama gira
em torno da tumultuada relação entre dois irmãos gêmeos, Yaqub e Omar, em uma
família de origem libanesa que vive em Manaus. O ambiente que forma o pano de
fundo da história é o de imigrantes que se dedicam ao comércio, numa cidade que
vê aprofundar-se sua decadência, após o período de grande efervescência
econômica e cultural vivido no início do século XX.
AVANÇOS E
RECUOS NO TEMPO
A narrativa
apresenta avanços e recuos no tempo, sem uma cronologia linear. Os problemas
vão sendo revelados ao leitor aos poucos, conforme o narrador rememora fatos
esclarecedores e os encadeia para solucionar (ou deixar em suspensão) os
enigmas da história. Uma breve introdução narra a morte de Zana, em situação de
enorme angústia. Na cena descrita, o silêncio que responde negativamente à
última pergunta da mulher (“Meus filhos já fizeram as pazes?”) coincide com o
fim do dia.
O primeiro
capítulo começa com a volta do jovem Yaqub de uma viagem forçada ao Líbano.
Pode-se concluir que essa ação se passa em 1945, no fim da II Guerra Mundial,
pois o porto do Rio de Janeiro está “apinhado de parentes de pracinhas e
oficiais que regressavam da Itália”.
O motivo da
viagem ao Líbano é esclarecido em mais um recuo cronológico: a tentativa de
separar os gêmeos e evitar o conflito entre eles. As diferenças entre os
personagens, que parecem vir do berço ou ter começado em sua mais remota
infância, tornam-se cada vez mais acentuadas.
ÓDIO PERENE
A primeira disputa séria entre os irmãos tem
como pivô Lívia, uma garota pela qual os dois se apaixonam. Numa primeira
ocasião (o baile dos jovens), a mãe ordena a Yaqub que leve a irmã Rânia para
casa, o que favorece Omar. O troco não demora a chegar: numa sessão de
cinematógrafo na casa dos vizinhos, uma pane no equipamento deixa a sala
escura. Quando as luzes se acendem, os lábios de Lívia estão colados ao rosto
de Yaqub. Omar se vinga quebrando uma garrafa e cortando, com ela, o rosto do
irmão. A cicatriz em forma de meia-lua será uma marca do ódio perene entre
ambos.
Os pais
percebem que o incidente pode despertar uma série de vinganças entre os dois e,
para evitar isso, mandam Yaqub a uma aldeia remota no Líbano. A estratégia
resulta inútil, pois a única coisa que não muda em Yaqub, ao voltar para o
Brasil, é o ódio que sente do irmão; o mesmo pode ser dito de Omar.
Yaqub chega da
viagem e se aferra aos estudos, revelando-se um matemático excelente. O irmão,
que permanecera sob os cuidados da mãe, mostra-se irrequieto e indisciplinado.
Durante uma aula de matemática, o Caçula agride o professor Bolislau, o
preferido de Yaqub, e é expulso do colégio dos padres. Vai para uma escola de
reputação duvidosa – Liceu Rui Barbosa, o Águia de Haia, conhecido como
“Galinheiro dos Vândalos”. Lá, conhece o professor Antenor Laval, admirador de
poetas simbolistas franceses e defensor da liberdade.
Em
contrapartida, o sucesso de Yaqub tem como prêmio uma viagem a São Paulo, a fim
de que possa aprimorar os estudos. Seu professor de matemática, o padre
Bolislau, ajuda-o a decidir-se pela partida, ao dizer: “Se ficares aqui, serás
derrotado pela província e devorado pelo teu irmão”. Antes de seguir, Yaqub tem
um encontro amoroso com Lívia.
PROSPERIDADE
VERSUS BOEMIA
Aos poucos, a
identidade do narrador é revelada. Sua mãe, Domingas, trabalhadora prestativa e
submissa, nada diz ao filho sobre quem seria seu pai. De São Paulo, Yaqub envia
cartas cada vez mais lacônicas. Forma-se em engenharia, prospera profissionalmente
e casa-se. Enquanto isso, um Halim velho e nostálgico fala sobre o passado ao
narrador. Conta como foi o nascimento dos filhos e a abertura de sua loja.
Afirma, também, que a vinda dos filhos o incomodou, pois sentia que eles lhe
roubavam a atenção da mulher, principalmente o Caçula.
Omar torna-se
boêmio, entrega-se a festas e a bebedeiras, terminando sempre suas noitadas
estirado numa rede da casa, onde permanece grande parte do dia. Na noite em que
traz uma mulher para casa, isso ultrapassa os limites até mesmo de seu
permissivo pai. Halim levanta-se e expulsa a desconhecida, que dormia na sala.
Depois, arrasta o filho pelo cabelo, dá-lhe uma bofetada, prende-o ao cofre e
parte por dois dias.
Quando Omar
leva formalmente outra mulher, Dália, para casa, Zana antevê nela uma potencial
concorrente, por isso a expulsa. O Caçula parte atrás de Dália, que descobrem
ser uma das Mulheres Prateadas, grupo de dançarinas amazonenses que se
apresentava em uma casa noturna.
Após o
episódio da mulher prateada, Zana decide enviar Omar a São Paulo. Yaqub negasse
a abrigar o irmão, mas se propõe a alugar para ele um quarto numa pensão e
matricula- lo num colégio particular. O Caçula parte para São Paulo e, durante
algum tempo, porta-se de maneira exemplar.
De repente,
chega a notícia de seu desaparecimento. Algum tempo depois, descobre-se que ele
se envolvera com a empregada de Yaqub para ter acesso à casa do irmão. Ao
chegar lá, descobrira que a mulher de Yaqub não era outra senão Lívia, alvo das
disputas infantis dos gêmeos. Tomado pela raiva, Omar cobrira as fotos de Yaqub
e de sua mulher com desenhos obscenos. Roubara também 820 dólares do irmão,
mais o seu passaporte, e viajara para os Estados Unidos.
MORTE DE HALIM
Numa visita de
Yaqub à família, em Manaus, o narrador observa sua mãe e o visitante de mãos
dadas e desconfia ter descoberto a identidade de seu pai. De volta a São Paulo,
o gêmeo mais velho prospera cada vez mais.
Omar retorna a
Manaus, onde se envolve em atividades de contrabando e com uma mulata conhecida
como Pau-Mulato. Depois foge de casa por longo tempo. Halim decide procurar o
Caçula, mas a busca, que dura meses, não surte resultado.
É Zana quem dá
o passo decisivo para encontrar o filho: procura um velho peixeiro manco, o
Perna-de-Sapo, que conhecia a floresta como ninguém. Em pouco tempo, o homem
descobre o paradeiro de Omar. Zana vai atrás dele e, após uma discussão, o traz
para casa.
O narrador
revela sua paixão por Rânia, que, no entanto, só irá conceder a ele uma única
noite de amor. Halim envelhece, e a presença definitiva do Caçula o deixa pouco
à vontade em casa. Zana pede a Nael, o narrador, que acompanhe o filho em suas
noitadas.
Outra faceta
de Omar é narrada no episódio de prisão e morte do professor Antenor Laval. Em
abril de 1964, logo após o golpe militar, Laval é espancado por policiais em
praça pública e preso. Dois dias depois, sabe-se que está morto.
Omar, abalado
com o destino do mestre, fecha-se em luto e deixa temporariamente as noitadas.
Halim se entrega cada vez mais ao passado e sai de casa frequentemente, para
longas caminhadas pela cidade, sempre seguido por Nael. Até que, na véspera do
Natal de 1968, só volta de madrugada, depois que todos já dormiam. De manhã, os
familiares o encontram: sentado sobre o sofá, não respira mais. Omar dirige,
então, grandes ofensas em direção ao corpo do pai.
Vizinhos
chegam a tempo de impedir o filho de atacar o cadáver. Yaqub envia para o
enterro uma coroa de flores e um epitáfio: “Saudades do meu pai, que mesmo à
distância sempre esteve presente”. Zana, pela primeira vez, trata Omar com
dureza e o repreende severamente.
PROJETO
FRACASSADO
Omar passa a trazer para casa um indiano
chamado Rochiram, que pretende construir um hotel em Manaus. Zana vê aí a
possibilidade de reconciliar os dois irmãos. O Caçula prevê as intenções da mãe
e tenta esconder inutilmente o indiano. Por carta, Zana chama Yaqub, que, após
algum tempo, aparece secretamente em Manaus e se hospeda num hotel isolado.
Está associado a Rochiram. Numa manhã, Yaqub surge na casa e deita-se na rede,
chamando Domingas para sentar-se a seu lado. Nesse instante, Omar irrompe na
varanda e agride brutalmente o irmão indefeso. Rasga também seus projetos para
a construção do hotel. Os planos de Zana vão por água abaixo: Yaqub tentara
trair o irmão, que descobrira tudo e o teria matado se não fosse a
interferência de Nael e dos vizinhos.
Para piorar a
situação, o fracasso do projeto resulta em gigantesca dívida com o empresário
indiano. Pouco tempo após o conflito, Domingas fica doente e morre. Antes,
revelara ao filho que, no passado, fora estuprada por Omar.
Rânia prepara
um bangalô para levar a mãe, que resiste a abandonar o velho lar. Um dia,
Rochiram aparece e pede a casa como forma de acerto da dívida. A sugestão viera
de Yaqub. Omar torna-se um foragido, porque a agressão fora denunciada pelo
irmão à polícia. Nesse tempo, ocorre a morte de Zana. Uma pequena parte da
casa, nos fundos, torna-se posse de Nael. “Tua herança”, afirma-lhe Rânia.
Numa tarde,
Omar aparece diante de Rânia. A irmã não tem tempo de falar com ele, já que
policiais estavam à espreita e o capturam, depois de agredi-lo. pturam, depois
de agredi-lo. O narrador cita rapidamente a morte de Yaqub. Omar sai da cadeia
pouco antes de cumprir sua pena. Na última cena do romance, chove
torrencialmente e o Caçula aparece diante do narrador. Olha fixamente para
Nael, parece estar a um passo de pedir perdão, mas recua e parte lentamente.
Exercícios
01. (UFAM) A respeito do personagem Adamor, o
Perna-de-Sapo, do romance Dois Irmãos, de Milton Hatoum, fazem-se as seguintes
afirmativas:
I. Em 1943 descobriu os restos de um avião
Catalina que desaparecera nas florestas do Purus e salvou da morte o aviador
Binford.
II. Descobriu,
a pedido de Zana, o paradeiro de Omar, que fugira de casa com uma mulher
chamada Pau-Mulato e se escondera num barquinho atrás do Mercado Adolpho
Lisboa.
III. Antes de
se tornar coveiro, era um peixeiro que vendia de porta em porta e sofria com as
implicâncias da índia Domingas.
IV. Ao sair de
Lábrea com uma das pernas paralisada, veio para Manaus, onde passou a morar em
condições humilhantes numa palafita.
Estão
corretas:
a) Apenas II e
IV
b) I, II e IV
c) Apenas I e
III
d) II, III e IV
e) Todas as afirmativas
02. (UFAM) Ainda sobre o romance
Dois Irmãos, é correto afirmar, a propósito do enredo:
a) Para ajudar Halim a conquistar
Zana, Abbas escreveu um gazal com quinze dísticos, que o pretendente fingiu
esquecer na mesa do restaurante Biblos, de propriedade do viúvo Galib, pai da
moça.
b) Tal como em Esaú de Jacó, de
Machado de Assis, observamos o tema dos gêmeos, que foi, porém, tratado de
forma diferente, de vez que os dois irmãos não são inimigos.
c) Domingas, a mãe de Nael, após ter ficado
órfã, veio do Alto Rio Negro trazida por Halim, que nessa época trabalhava como
regatão.
d) A antiga casa de Halim e Zana foi vendida
para uma multinacional, após a instalação da Zona Franca, e Nael e Rânia, sua
tia, se mudaram para um conjunto habitacional moderno.
e) Uma das pretendentes a casar
com Yaqub se chamava Dália, a Mulher Prateada, que, no entanto, não foi capaz
de enfrentar o ciúme possessivo que Zana sentia em relação ao filho.
O fragmento a
seguir faz parte do romance Dois irmãos, de Milton Hatoum; com ele se
relacionam as questões 03 e 04.
“Foi Domingas
quem me contou a história da cicatriz no rosto de Yaqub.
(...) Era uma tarde nublada de sábado, logo
depois do Carnaval. As crianças da rua se alinhavam para passar a tarde na casa
dos Reinoso, onde se aguardava a chegada de um cinematógrafo ambulante. No
último sábado de cada mês, Estelita avisava as mães da vizinhança que haveria
uma sessão de cinema em sua casa. Era um acontecimento e tanto. As crianças
almoçavam cedo, vestiam a melhor roupa, se perfumavam e saíam de casa sonhando
com as imagens que veriam na parede branca do porão da casa de Estelita.”
03. Assinale a
alternativa incorreta, em relação a “As crianças da rua se alinhavam para
passar a tarde na casa dos Reinoso, onde se aguardava a chegada de um
cinematógrafo ambulante”.
a) Na
expressão dos Reinoso há circunstância de posse.
b) São,
respectivamente, substantivo, preposição e adjetivo: rua, na, Reinoso.
c) O pronome se, em se alinhavam, é reflexivo
e se refere a As crianças.
d) Em “onde se
aguardava” onde é pronome relativo; equivale a na qual.
e) A oração
para passar a tarde na casa dos Reinoso indica finalidade.
04. Assinale a
alternativa incorreta.
a) A história de Dois irmãos tem início em
1910 e termina no final da década de 60 quando, durante o regime militar, Yaqub
é preso e desaparece misteriosamente.
b) O rio
Negro, as chuvas fortes, as enchentes e as frutas típicas da região amazônica
aparecem como pano de fundo do romance.
c) O tema
central do romance é o conflito entre os irmãos gêmeos Omar e Yaqub, filhos de
imigrantes libaneses.
d) Os irmãos
eram apaixonados por Lívia, com quem Yaqub casou.
e) Halim era
avô do narrador, filho bastardo de Omar.
05. Com
relação ao texto e ao romance “Dois irmãos”, assinale a(s) proposição(ões)
correta(s).
01) No Texto,
o narrador principal da história (Nael, filho de Omar) cede espaço para um
narrador secundário (Halim, pai de Omar) resumir sua saga de imigrante libanês.
02) A narrativa apresenta um drama familiar e
a conflituosa relação entre os dois irmãos gêmeos, Yacub e Omar.
04) Nael, personagem/narrador
perturbado pela dúvida quanto à sua filiação, reconstrói a memória da família
libanesa, que é, também, a sua própria memória/identidade.
08) O excerto
apresenta os principais elementos da narrativa de Hatoum: romance ambientado em
Manaus; o narrador, Galib, é mascate, conhece Zana, filha do dono de um
restaurante, e é pai dos gêmeos Yacub e Omar (foco da discórdia familiar).
16) São
recorrentes em obras de ficção ou que representam diferentes culturas, as
disputas entre irmãos gêmeos, a exemplo de Caim e Abel, Esaú e Jacó, mas que,
diferentemente de Yacub e Omar, encontram uma saída harmoniosa para o conflito.
32) Embora os
dois irmãos sejam gêmeos, Omar é chamado de “o caçula”, o que denuncia o
tratamento desigual dado, pela mãe, aos dois personagens principais e criticado
pela irmã dos gêmeos, Rânia.
64) Nael, o
narrador, é filho da índia Domingas e de Omar, filho de imigrante libanês. Nael
simboliza a mistura das raças resultante dos processos de imigração, que se deu
de forma tranquila e equilibrada.
06. Na narração que Nael faz do
conflito entre Yaqub e Omar, da obra “Dois irmãos”, de Milton Hatoum,
evidencia-se:
a) o recurso ao fluxo de
consciência para o desvendamento da filiação do narrador.
b) a caracterização das
personagens principais segundo a ótica do regionalismo.
c) o distanciamento temporal do
narrador em relação à grande parte dos fatos relatados.
d) a presença de um discurso
xenófobo subjacente à história de decadência da família árabe.
e) a oposição entre o discurso direto popular
das personagens e o indireto culto do narrador.
07. Sobre a obra “Dois irmãos”,
de Milton Hatoum, analise as proposições a seguir:
I. O ponto de vista do narrador é baseado nas
suas observações, como também nos relatos de Domingas e Halim.
II. Quanto às personagens protagonistas,
pode-se afirmar que Yakub tem a personalidade menos complexa, pois apresenta
comportamento previsível, ao contrário de Omar.
III. O tempo da narrativa
coincide com o tempo da narração, visto que a história é narrada diretamente da
memória de um narrador, que usa como recurso o tempo psicológico e o discurso
indireto livre para conseguir essa coincidência.
IV. O episódio do restaurante Biblos, lugar
onde nasce o romance de Zana e Halim, é um exemplo de “flashback”, isto é,
rompimento da linearidade que se dá na história dos dois irmãos.
Marque a alternativa CORRETA:
a) As proposições I e II são
verdadeiras.
b) As proposições II e III são
verdadeiras.
c) As proposições III e IV são
verdadeiras.
d) As proposições II e IV são verdadeiras.
e) As proposições I e IV são
verdadeiras.
Gabarito
01. E 02. A 03. B 04. A 05. 07 06.