Quincas Borba, de Machado de Assis
- Quincas Borba foi desenvolvido originalmente no formato de folhetim para a revista A Estação e publicado no período de 1886 a 1891, sendo adaptado posteriormente para livro em edição do próprio Machado.
- Narrado em terceira pessoa
- Considerado o mais objetivo dos romances de Machado de Assis;
- Irmão da obra Memórias Póstumas de Bras Cubas, que inaugurou o Realismo Brasileiro e tem o mesmo dom ao trabalhar com a digressão, ironia e metalinguagem;
- É um desdobramento da problemática e da narrativa de Memórias Póstumas de Brás Cubas;
- Tem como personagem Quincas Borba que já fazia parte de Memórias Póstumas de Brás Cubas.(Amigo de infância do autor defunto, tinha decaído de abastado para mendigo, depois, recebendo uma herança, tornara-se rico e criador de uma filosofia, o Humanitas ou Humanitismo)
O Enredo
A história começa em Barbacena e conta a vida de Pedro Rubião de
Alvarenga, um ingênuo ex-professor de primeiras letras que se torna
discípulo e enfermeiro de Quincas Borbas (você se lembrará dele caso
já tenha lido Memórias Póstumas de Brás Cubas) que por
sua vez lhe apresenta o Humanitas, filosofia que defende a ideia de que
a sobrevivência do homem depende de saber vencer os outros, onde só os
mais fortes sobrevivem enquanto os fracos são manipulados e aniquilados
pelos mais espertos. Rubião nunca chegou a compreender ou assimilar a
filosofia.
Borbas, muito doente, acaba falecendo em casa de Brás Cubas e Rubião
se descobre o herdeiro universal do filósofo sob a condição de cuidar de
seu cachorro, também chamado Quincas Borba que é um elemento curioso na obra. Pode-se
dizer que o título refere-se a ele, num mecanismo que engana o leitor – o
livro não é, na verdade, sobre o homem Quincas Borba. Pode-se, também,
ver no animal uma extensão, dentro dos próprios ditames do Humanitas, do
princípio do antigo dono. Tanto que algumas vezes o Rubião tinha
preocupações com suas ações imaginando que o mestre havia sobrevivido na
criatura. É uma observação que faz sentido, tanto no aspecto
“espiritualista” como na própria estrutura literária da obra, pois o cão
fica como uma suposta consciência do filósofo, a incomodar Rubião.
De posse
da fortuna e tendo aprendido de Quincas Borba alguns elementos de sua
filosofia, o Humanitismo o ex-professor Rubião
cai na mesma sanha da espécie humana: que quer fama e status, então decide
começar vida nova e parte para o Rio de Janeiro, na viagem conhece
Cristiano Palha e sua esposa Sofia. Desprovido de malícias, confessa sua riqueza repentina, despertando o olhar de rapina do
marido, que rapidamente oferece sua casa e sua ajuda durante a estada do
mineiro na capital. Rubião
deixa-se levar pelas gentilezas do casal, muda para um palacete indicado
por Palha (agora seu sócio) e se apaixona por Sofia, que lhe dispensa olhares e cuidados.
Depois de muitos favores e empréstimos ao casal, Rubião não é mais
capaz de se segurar e declara seu amor a Sofia, que o recusa e conta
tudo ao marido. Ao
saber da corte de Rubião à sua mulher, Palha divide-se entre dois sentimentos:
o ciúme que tem da mulher fá-lo pensar em atitudes radicais, mas sua
dependência econômica de Rubião o leva a não querer ofender o sócio. Aconselhada
a não ser brusca com uma pessoa tão preciosa, Sofia acaba assumindo uma postura
ambígua para Rubião. Não atende a seus desejos, mas também não os nega
enfaticamente, o que alimenta nele esperanças, geradoras de certas
complicações.
Tonica,
filha do Major Siqueira e que atingiu o posto perigoso de solteirona, vê no
mineiro sua última tábua de salvação. Mas percebe no homem o interesse por
Sofia, o que lhe desperta desejos éticos de denúncia que, no fundo, são mera
sede de vingança e despeito. Mas não reage, apesar de toda a expectativa
criada. No fim, sofre um processo de empobrecimento, ao mesmo tempo em que ela
e seu pai são desprezados pelo casal Palha, em franca ascensão social. Acaba
arranjando um noivo – um tanto desqualificado, mas, como dizia uma outra
personagem, D. Fernanda, “um mau marido é melhor do que um sonho” – que
termina por morrer dias antes do casamento (parece que o Major Siqueira e
Tonica servem para mostrar na narrativa o lado dos perdedores, o que se
contrapõe com o Humanitismo defendido por Quincas Borba, de acordo com o qual a
opinião, o ponto de vista dos perdedores não conta).
Em outro baile, um jovem de nome Carlos Maria passa a noite dançando com Sofia, o que deixa até no ar a possibilidade do surgimento de um adultério. Mas houve apenas a satisfação de dois egos: ela, por se sentir idolatrada; ele, por ter em suas mãos a mais bela mulher do salão. E tudo esfria, não surgindo mais nenhum laço forte além da dança. No entanto, duas personagens imaginaram que o episódio tinha gerado conseqüências mais terríveis. O primeiro foi Rubião, que se sente enciumado. Em sua mente, aceita dividir Sofia com Cristiano, marido. Mas não aceita com outro amante. A outra personagem é Maria Benedita, prima de Sofia, criada no interior, alheia à civilização, mas que desperta o desejo de evoluir graças ao interesse que sente por Carlos Maria. Sente-se, pois, arrasada ao pensar que a senhora Palha indignamente havia-lhe passado a perna.
Mas, se a menina mergulha na melancolia passiva, Rubião é um pouco mais ativo. Começa a ter delírios paranóicos. Imagina, com base numa história contada (e provavelmente inventada) por um cocheiro, que Sofia se encontrava com Carlos Maria num bairro distante. E o clímax é quando imagina ter como prova uma carta dela para o suposto amante, missiva que nem sequer abrira. Se tivesse, descobriria que era apenas um comunicado sobre a Comissão de Alagoas.
Tocou-se, pois, num passo importante da narrativa: a Comissão de Alagoas. Em primeiro lugar, esse episódio vai lembrar a morte da avó de Quincas Borba. Por causa do flagelo que houve na província nordestina, Sofia faz parte de um grupo de caridade composto de senhoras da alta sociedade da corte. Começa, pois, a fincar seu lugar ao sol, graças à desgraça alheia. É também por meio desse grupo que vai conseguir o casamento de Maria Benedita com Carlos Maria, parente de D. Fernanda, mulher muito conceituada. Torna-se nítido, nesse ponto, uma característica muito comum às narrativas machadianas: os mecanismos de favor. No Brasil da época de Machado de Assis, muitas vezes a ascensão social não era obtida por meio da competência. Entravam em campo tais mecanismos. Quem estava por baixo, geralmente gente da classe média, como profissionais liberais ou comerciantes (o caso do casal Palha), esforça-se para conquistar a simpatia de quem está por cima, ricos proprietários da classe alta (o caso de D. Fernanda).
Em outro baile, um jovem de nome Carlos Maria passa a noite dançando com Sofia, o que deixa até no ar a possibilidade do surgimento de um adultério. Mas houve apenas a satisfação de dois egos: ela, por se sentir idolatrada; ele, por ter em suas mãos a mais bela mulher do salão. E tudo esfria, não surgindo mais nenhum laço forte além da dança. No entanto, duas personagens imaginaram que o episódio tinha gerado conseqüências mais terríveis. O primeiro foi Rubião, que se sente enciumado. Em sua mente, aceita dividir Sofia com Cristiano, marido. Mas não aceita com outro amante. A outra personagem é Maria Benedita, prima de Sofia, criada no interior, alheia à civilização, mas que desperta o desejo de evoluir graças ao interesse que sente por Carlos Maria. Sente-se, pois, arrasada ao pensar que a senhora Palha indignamente havia-lhe passado a perna.
Mas, se a menina mergulha na melancolia passiva, Rubião é um pouco mais ativo. Começa a ter delírios paranóicos. Imagina, com base numa história contada (e provavelmente inventada) por um cocheiro, que Sofia se encontrava com Carlos Maria num bairro distante. E o clímax é quando imagina ter como prova uma carta dela para o suposto amante, missiva que nem sequer abrira. Se tivesse, descobriria que era apenas um comunicado sobre a Comissão de Alagoas.
Tocou-se, pois, num passo importante da narrativa: a Comissão de Alagoas. Em primeiro lugar, esse episódio vai lembrar a morte da avó de Quincas Borba. Por causa do flagelo que houve na província nordestina, Sofia faz parte de um grupo de caridade composto de senhoras da alta sociedade da corte. Começa, pois, a fincar seu lugar ao sol, graças à desgraça alheia. É também por meio desse grupo que vai conseguir o casamento de Maria Benedita com Carlos Maria, parente de D. Fernanda, mulher muito conceituada. Torna-se nítido, nesse ponto, uma característica muito comum às narrativas machadianas: os mecanismos de favor. No Brasil da época de Machado de Assis, muitas vezes a ascensão social não era obtida por meio da competência. Entravam em campo tais mecanismos. Quem estava por baixo, geralmente gente da classe média, como profissionais liberais ou comerciantes (o caso do casal Palha), esforça-se para conquistar a simpatia de quem está por cima, ricos proprietários da classe alta (o caso de D. Fernanda).
O amor não correspondido por Sofia começa, aos poucos, a despertar a
insanidade em Rubião. Louco, alienado e explorado pelos “amigos” acaba
sendo internado num asilo de onde foge para voltar a Minas. Onde morre, em pleno
delírio de grandeza, acompanhado de seu cão Quincas Borba e repetindo uma frase
do Humanitismo: - "Ao vencedor, as batatas".
Tudo cai no
esquecimento, na indiferença do tempo. Humanitas mais uma vez garante sua
sobrevivência, dando vida ao forte, eliminando os mais fracos.
O romance traz uma linguagem bem acessível, de personagens cativantes e
leitura fácil. Uma história com todas as características mais
marcantes – pessimismo, ironia, senso de humor soturno – daquela que é
conhecida como a segunda fase do escritor.
O estilo de narração assume a posição de um escritor/narrador que faz
comentários, externa opiniões, dirige-se diretamente ao leitor, uma
manipulação que faz com que o leitor se sinta, de certa forma, parte da
história, um leitor-personagem ou algo parecido.