O tema da publicidade
infantil esteve em alta no noticiário deste ano devido à publicação, em abril,
de uma resolução do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
(Conanda) que considerava abusiva a publicidade voltada para crianças e
adolescentes. Confira a redação:
Entre peões e iPhones
Bola de gude. Peão. Peteca. Um dia, esses objetos fizeram parte do
universo infantil, passados de uma geração a outra sem muita dificuldade. Hoje,
em uma sociedade altamente globalizada, muitas crianças desconhecem esses
brinquedos e têm outros anseios e desejos de consumo, que são ainda mais
ampliados e influenciados pela propaganda. Nesse contexto, discute-se a
publicidade infantil no contexto brasileiro e até que ponto ela pode ser
abusiva. Cabe, então, avaliar a legitimidade e o impacto desse questionamento.
Em primeiro lugar, é preciso analisar o poder que a publicidade tem de
ajudar a construir a ideia de relevância social. Hoje, a cultura do ter em
detrimento do ser encontra-se bastante enraizada, e o que se tem determina o
que se é. Sabendo disso e da influência que as crianças, mais do que nunca,
exercem sobre os adultos, parte do mercado vira-se para esse público, com
jogos, roupas, emissoras e programas bastante atrativos. No Brasil, entretanto,
tal questão torna-se extremamente problemática, pois, em um país com profundas
desigualdades socioeconômicas, nem todas as crianças podem ter o que a
propaganda vende. Para além do consumismo desenfreado, isso pode estimular o
“bullying” e aprofundar a segregação social.
Além disso, faz-se necessário atentar para o fato de que a publicidade
se faz presente para além de comerciais e campanhas midiáticas. Ela está também
presente de maneira camuflada, escondida em “merchandisings” de novelas e
filmes, por exemplo. Um ídolo teen usando uma determinada marca de roupa é
capaz de catapultar as vendas desse produto – por vezes, muito mais do que uma
propaganda direta. Quando falamos de crianças, isso é ainda mais preocupante,
uma vez que elas são altamente influenciáveis e estão em fase de formação de
caráter e personalidade – atualmente, construídos por iPhones e “tablets”, ou
pela ideia deles.
Fica evidente, portanto, que, assim como na Biologia, na qual o
mutualismo é a relação harmônica na qual um precisa do outro para sobreviver, é
necessário um esforço mutualístico para preservar uma relação saudável entre a
publicidade e o público infantil. Por meio de leis, o governo deve punir com
multas propagandas deliberadamente abusivas. Já a família e a escola devem se
unir para passar às crianças os valores mais essenciais que escapam à ideia do
consumismo, bem como ajudar a construir consumidores críticos e conscientes.
Afinal, peões e bolas de gude podem estar no passado, mas o cuidado com o nosso
futuro – nossas crianças – não pode ser renegado.
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