quarta-feira, 10 de julho de 2013

Como escrever um Editorial?


 
 
Texto argumentativo publicado no primeiro caderno dos jornais, o editorial discute temas políticos, sociais, econômicos, dentre outros. Propõe uma tese de raciocínio que deverá ser defendida e discutida ao longo do texto, portanto explicita um ponto de vista. Na maioria dos jornais, o enfoque é impessoal. Apresenta título e, em alguns casos, enunciado.
 

 Exemplo: Democracia e Governabilidade.

 

Cada vez mais o Legislativo brasileiro está subordinado ao Executivo e faz o que o governo quer. Muitos analistas dizem que, para o avanço da democracia em nosso país, deveria ser o contrário: o Legislativo deveria exercer maior controle sobre o Executivo, limitando e controlando seus poderes, com base nas regras definidas pela Constituição e na defesa do interesse público. Essa dependência entre poderes que deveriam ser autônomos cresceu nos últimos anos. E não parece ter ocorrido a formação de um bloco de poder constituído para a defesa de um programa político, algo que configurasse uma hegemonia tal que permitiria grandes mudanças como as reformas de base − agrária, tributária, política − de que o país tanto necessita para reduzir as desigualdades.

 

A lógica da qual parte o Executivo, de garantir a governabilidade e, portanto, assegurar a maioria no Congresso, juntou partidos e posições que a rigor estão em campos antagônicos. Manter essa base parlamentar fiel ao Executivo significa administrar demandas de interesses em conflito, como é o que ocorre hoje com a votação do Código Florestal. Lançando mão de práticas de mobilização social apoiadas por muitos recursos, no dia 5 de abril, mais de 20 mil pessoas participaram de manifestações em Brasília, lideradas pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso, contando com o apoio das federações agrícolas de todo o país, para pressionar o Congresso pela mudança no Código Florestal. Elas querem derrubar as restrições ao desmatamento, pouco importando o que significa para a ecologia e para a sociedade brasileira transformar tudo em pasto ou em campos de monocultura extensiva. Uma semana depois, cerca de 3 mil pequenos produtores rurais, principalmente agricultores familiares, estiveram também em Brasília, pressionando o Congresso pela rejeição ao projeto de lei do deputado Aldo Rebelo que muda o Código Florestal. O poder de fogo do agronegócio, com forte apoio da grande mídia brasileira, tende a pesar mais na balança da busca da governabilidade que a defesa do meio ambiente que fazem os milhões de pequenos agricultores representados por aqueles que conseguiram se mobilizar e foram a Brasília no dia 10 de abril. E, nessa lógica de preservação da governabilidade, as negociações em torno da aprovação ou rejeição do Código Florestal tendem a favorecer a bancada ruralista e o agronegócio. Segundo cálculos do Diap,1 o Executivo conta hoje com uma base parlamentar na Câmara dos Deputados de 401 deputados, e a oposição, de apenas 112. No Senado, a relação é de 62 para 19. Essa maioria asseguraria até a promoção de grandes reformas constitucionais, se estas estivessem na mira do Executivo. Mas os prognósticos são outros. O Executivo parece disposto a poucas mudanças, para não desarranjar essa maioria em que cabem tanto a esquerda quanto a direita, tanto a defesa dos interesses públicos quanto o favorecimento dos interesses das grandes empresas.

 

No jogo de pressões que é a política, parece que a direita que está na base parlamentar do governo vai ganhando espaços, sem que outras forças sociais tenham a capacidade de se contrapor a esse avanço. Por essa lógica, não será a oposição conservadora do PSDB e do DEM que dará o tom aos debates no Congresso − esses partidos vivem a maior crise de sua história,não têm programas, não têm projetos, não são capazes de fazer oposição, especialmente neste momento particular em que a economia brasileira cresce e o emprego se expande. A verdadeira oposição vem de dentro da aliança que

compõe a maioria, travestida de base de governo, que disputa com unhas e dentes mudanças nas políticas públicas que favoreçam seus negócios.

Silvio Caccia Bava é editor de Le Monde Diplomatique Brasil e coordenador geral do Instituto Pólis Editorial do Le Monde Diplomatique, de Maio de 2011.

 

Exercício

 

B) Tese:

C) Principais Argumentos:

D) Estratégias Argumentativas:

E) Redija um editorial de um jornal de grande circulação nacional em que você DESENVOLVA a seguinte assertiva: Pensar em meio ambiente e sustentabilidade exige que pensemos sobre itens básicos como geração de riqueza e conhecimento. (Para saber mais sobre o tema, leia o texto a seguir).

 

Uma viagem por Bonsucesso e o que não fazemos pelo meio ambiente
 

Como falar em preservação do meio ambiente em um bairro que não tem uma árvore plantada na calçada, onde a preocupação é garantir o almoço de amanhã?
 
 Katerina Volcov
 
 
 Meio ambiente, proteção florestal, mudanças climáticas, Copenhaguen, G-8, desmatamento, Bill Clinton no Brasil e sustentabilidade podem ser consideradas as grandes pautas desta semana, ainda mais com a proximidade do dia do meio ambiente. E eu me pergunto o que o pessoal que mora no bairro Bonsucesso, em Guarulhos na grande São Paulo, pensa sobre isso. Esta semana, tive a oportunidade de fazer um tour em transporte coletivo por alguns bairros da periferia de Guarulhos, incluindo o de Bonsucesso. Não sei se as preocupações ambientais fazem parte da agenda local do bairro, porque não pesquisei sobre isso, mas não tenho como não mencionar o que os meus olhos pequeno-burgueses puderam observar. Sim, devo admitir aos leitores mais críticos que completei a universidade e alguns outros cursos, e, por isso, escapei de morar em Bonsucesso ou em qualquer outro bairro parecido, de modo que assumo: meu discurso já está bem diferente. E já dizia Bahktin, todo discurso é ideológico por natureza. Casas em construção irregular, inúmeras ruas sem pavimentação, esgotos a céu aberto, quadra poliesportiva semi-abandonada onde a terceira idade caminha, nenhum outdoor, nenhum grande magazine, alguns botecos, lojinhas feitas na garagem, vendinhas, muito barro, pontos de ônibus depredados, falta de transporte coletivo, ônibus lotado, uma escala de cor que vai do cinza, passa pelo ocre e vai pro branco sujo, numeração residencial dispare, poucas escolas, muitas igrejas e ruas sem árvores, sem calçadas e sem flores. Claro que isso tudo não estava localizado na avenida próxima ao shopping Center Bonsucesso ou à Unifesp. É nas entranhas do bairro, nas vielas por onde passa o circular que podemos observar essa natureza-morta. Com base naquilo que vi, continuei a me questionar se por acaso eu fosse até a quadra onde estavam aqueles senhores e senhoras, ou mesmo se conversasse com as pessoas que passavam pelo ponto de ônibus o que eles entendiam por sustentabilidade, coleta seletiva de lixo e o que eles fariam no próximo dia 5, data conhecida como o dia do meio ambiente. Imaginei inúmeras respostas. E por falta de tempo e disponibilidade naquele instante, não fiz a pergunta. Por isso, não posso afirmar nada. Mas os questionamentos permaneceram.

Como falar de meio ambiente num local onde não há árvore nem calçada? Como pensar em sustentabilidade quando a preocupação é “vou conseguir um emprego esta semana?” ou “preciso ir ao hospital levar meu filho doente e tentar conseguir um remédio”. Pensar em meio ambiente e sustentabilidade exige que pensemos sobre itens básicos como geração de riqueza e conhecimento. Entre o universo sustentável dos eventos e cursos de gestão nessa área e a realidade crua e nua de Bonsucesso há um abismo. Não dá para exigir uma postura sustentável de alguém que mora em um local onde nem sabe ao menos o número de sua residência. Pensar somente no desmatamento da Amazônia ou a entrada agressiva do agronegócio no norte do país é importante e se faz necessário. Porém, se considerarmos o meio ambiente como o local onde estamos, é imprescindível que novas formas de se olhar e se praticar responsabilidade socioambiental sejam dispostas em locais como Bonsucesso ou em inúmeras favelas inseridas em bairros de classe média de São Paulo, como a favela do Buraco Quente, da Rua Alba, Águas Espraiadas e por aí vai. É preciso que as preocupações em relação ao meio ambiente não se restrinjam a plantar árvores e distribuir mudas com logomarcas de grandes empresas, mas sim, que essas mesmas instituições juntamente com organizações populares possam chegar a um consenso das reais necessidades da população e que, projetos e políticas públicas com incentivos de empresas locais possam trabalhar em prol de um desenvolvimento local que traga saúde, educação, cultura e, geração de prosperidade. Só assim poderemos comemorar de fato o dia do meio ambiente.

 

Katerina Volcov é diretora da SOMA Agência, desenvolve projetos de responsabilidade socioambiental, gosta de percorrer caminhos alternativos para se chegar a novas possibilidades e não se deixa seduzir pela entrega de mudas de árvores e sementes. As opiniões expressas aqui são de exclusiva responsabilidade do autor e não estão necessariamente de acordo com os parâmetros editoriais da Caros Amigos.

Disponível em: http://carosamigos.terra.com.br/index_site.php

 

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