TEXTO I
Viver mata
Estamos criando um país de covardes.
Os muros do Brasil ficam cada vez mais altos – e cada vez mais adornados por acessórios tétricos como fios de alta tensão e lanças pontudas. Em São Paulo, apartamentos ficaram mais caros que casas. Há cada vez mais guaritas nas esquinas, cada vez mais grades nas janelas, cada vez mais holofotes nas calçadas, cada vez mais câmeras, cada vez mais voltas na fechadura e,o que mais me assusta, cada vez menos crianças brincando na rua. Os carros parecem cada dia mais com fortificações – são como jipes de guerra, isolados do mundo por detestáveis vidros fumê, que impossibilitam o contato visual. O Brasil está com medo.
Por que será?
Afinal, em termos concretos, o país não está ficando mais perigoso. Os índices de crimes violentos das nossas grandes cidades, embora continuem altos o suficiente para serem comparados sem muita desvantagem com zonas de guerra, estão caindo rapidamente. Os últimos 15 anos, que foram de estabilidade econômica e de redução da nossa astronômica desigualdade, foram também de diminuição consistente da criminalidade em boa parte do país. Mas a sensação de insegurança andou
na contramão – ela aumentou. Aumentou muito. Como explicar isso?
Talvez uma parte da história seja o grande aumento da classe média. Classe média é gente que tem algo a perder – portanto tem medo. Talvez outra parte da história seja a fixação mórbida que a sociedade da informação tem com violência. O tempo todo ouvimos histórias sanguinolentas, terríveis, assustadoras. Difícil não ter medo depois de ficar sabendo dessas coisas.
Acontece que medo é um sentimento perigoso. Mais gente com medo significa menos gente na rua – portanto mais crime. Significa mais gente armada, mais gente disposta a agredir os outros (porque comportamento agressivo é típico de gente assustada). Enfim, medo não funciona.
Eu morro de medo do efeito que esse medo pode ter no nosso futuro. Será que estamos criando uma geração de gente que não vai aprender a conviver com quem é diferente? Uma geração de gente que não cresceu na rua, que não teve que se virar gerenciando os riscos inerentes à vida? Uma geração de gente que não se garante? [...]
Viver é perigoso mesmo. Viver mata. Mas são os riscos que fazem a vida valer a pena. As ruas estão cheias de perigo – não nego isso. Mas é convivendo com esses perigos, encarando-os de olho no olho, que a gente se torna melhor, que a gente aprende a viver (“viver é conviver”, sempre diz minha tia-avó). Se o
Brasil aprender a vencer o medo, tem uma baita oportunidade de servir de exemplo para o mundo de
convivência na diversidade. Se não aprender, vai virar um país besta, sem nada de especial.
(Denis Russo Burgierman, http://veja.abril.com.br/blog/denis-russo –
17/02/2010)
Texto ll
Responda para aprender:
1)
Embora não seja recomendada em textos dissertativos e opinativos em geral, a
repetição recorrente de uma mesma palavra ou expressão pode ter uma finalidade
específica. No segundo parágrafo do texto II, o autor empregou a expressão
“cada vez mais” diversas vezes. O que essa repetição enfatiza?
2) No sexto parágrafo
de “Viver mata”, ao afirmar que “classe média é gente que tem algo a perder –
portanto tem medo”, o autor faz uso do raciocínio dedutivo como estratégia
argumentativa. Indique a premissa que está implícita nessa dedução, completando
o esquema abaixo:
Premissa 1:
___________________________
Premissa 2: A classe média tem algo a
perder.
Conclusão: Logo, a classe
média tem medo.
3) Explique de que forma o texto II
dialoga com o primeiro, levando em consideração a análise que Burgierman faz
das causas do medo em nossa sociedade.
Redija uma
dissertação argumentativa, de 25 a 30 linhas, em que se discorra sobre o medo
da violência urbana. Não se esqueça de atribuir um título ao seu
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