Ao elaborarmos um texto, precisamos ter em mente
que estamos escrevendo para alguém. Enquanto a redação literária destina-se à
publicação em jornal, livro ou revista, e seu público é geralmente heterogêneo,
a redação para vestibular tem em vista selecionar os candidatos cuja habilidade
discursiva toma-os aptos a ingressar na vida acadêmica.
Seja um texto literário ou escolar, a redação
sempre apresenta alguém que o escreve, o emissor, e alguém que o lê, o receptor.
O modo como o emissor escreve é a mensagem. O elemento que conduz o
discurso para o receptor é o canal (no nosso caso, o canal é o papel).
Os fatos, os objetos ou imagens, os juízos ou raciocínios que o emissor expõe
ou sobre os quais discorre constituem o referente. A língua que o
emissor utiliza (no nosso caso, obrigatoriamente, a língua portuguesa)
constitui o código.
Função referencial ou denotativa
Certamente a mais comum e mais usada no dia-a-dia,
a função referencial ou informativa, também chamada denotativa ou
cognitiva, privilegia o contexto. Ela evidencia o assunto, o objeto,
os fatos, os juízos. É a linguagem da comunicação. Faz referência a um
contexto, ou seja, a uma informação sem qualquer envolvimento de quem a produz
ou de quem a recebe. Não há preocupação com estilo; sua intenção é unicamente
informar. É a linguagem das redações escolares, principalmente das dissertações,
das narrações não- fictícias e das descrições objetivas. Caracteriza também o
discurso científico, o jornalístico e a correspondência comercial. Exemplo:
Todo brasileiro tem direito à aposentadoria. Mas
nem todos têm direitos iguais. Um milhão e meio de funcionários públicos,
aposentados por regimes especiais, consomem mais recursos do que os quinze
milhões de trabalhadores aposentados pelo INSS. Enquanto a média dos benefícios
aos aposentados do INSS é de 2,1 salários mínimos, nos regimes especiais tem
gente que ganha mais de 100 salários mínimos.
(Programa Nacional de
Desestatização)
Função emotiva ou expressiva
Quando há ênfase no emissor (lª pessoa) e na expressão direta de suas
emoções e atitudes, temos a função emotiva, também chamada
expressiva ou de exteriorização psíquica. Ela é lingüisticamente representada
por interjeições, adjetivos, signos de pontuação (tais como exclamações,
reticências) e agressão verbal (insultos, termos de baixo calão), que
representam a marca subjetiva de quem fala. Exemplo:
Oh! como
és linda, mulher que passas
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias.
(Vinícius de Moraes)
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias.
(Vinícius de Moraes)
Observe que em “Luís, você é mesmo um burro!”, a
frase perde seu caráter informativo (já que Luís não é uma pessoa transformada
em animal) e enfatiza o emotivo, pois revela o estado emocional do emissor...
As canções populares amorosas, as novelas e qualquer expressão artística que deixe transparecer o estado emocional do emissor também pertencem à função emotiva. Exemplos:
As canções populares amorosas, as novelas e qualquer expressão artística que deixe transparecer o estado emocional do emissor também pertencem à função emotiva. Exemplos:
E aí me
dá uma inveja dessa gente...
(Chico Buarque)
(Chico Buarque)
Não
adianta nem tentar
Me esquecer
Durante muito tempo em sua vida
Eu vou viver
(Roberto Carlos & Erasmo Carlos)
Me esquecer
Durante muito tempo em sua vida
Eu vou viver
(Roberto Carlos & Erasmo Carlos)
Sinto que viver
é inevitável. Posso na primavera ficar horas sentada fumando, apenas sendo. Ser
às vezes sangra. Mas não há como não sangrar pois é no sangue que sinto a
primavera. Dói. A primavera me dá coisas. Dá do que viver. E sinto que um dia
na primavera é que vou morrer de amor pungente e coração enfraquecido. (Clarice Lispector)
Função conativa ou apelativa
A função conativa é aquela que busca
mobilizar a atenção do receptor, produzindo um apelo ou uma ordem. Pode ser
volitiva, revelando assim uma vontade (“Por favor, eu gostaria que você se
retirasse.”), ou imperativa, que é a característica fundamental da propaganda.
Encontra no vocativo e no imperativo sua expressão gramatical mais autêntica.
Exemplos:
Antônio,
venha cá!
Compre um e leve três.
Beba Coca-Cola.
Se o terreno é difícil, use uma solução inteligente: Mercedes-Benz.
Compre um e leve três.
Beba Coca-Cola.
Se o terreno é difícil, use uma solução inteligente: Mercedes-Benz.
Função fática
Se a ênfase está no canal, para checar
sua recepção ou para manter a conexão entre os falantes, temos a função fática.
Nas fórmulas ritualizadas da comunicação, os recursos fáticos são comuns.
Exemplos:
Bom-dia!
Oi, tudo bem?
Ah, é!
Huin... hum...
Alô, quem fala?
Hã, o quê?
Oi, tudo bem?
Ah, é!
Huin... hum...
Alô, quem fala?
Hã, o quê?
Observe os recursos fáticos que, embora
característicos da linguagem oral, ganham expressividade na música:
Alô, alô
marciano
Aqui quem fala é da Terra.
(Rita Lee & Roberto de Carvalho)
Aqui quem fala é da Terra.
(Rita Lee & Roberto de Carvalho)
Blá, Blá,
Blá, Blá, Blá
Blá, Blá, Blá, Blá
Ti, Ti, Ti, Ti, Ti,
Ti, Ti, Ti, Ti
Tá tudo muito bom, bom!
Tá tudo muito bem, bem!
(Evandro Mesquita)
Blá, Blá, Blá, Blá
Ti, Ti, Ti, Ti, Ti,
Ti, Ti, Ti, Ti
Tá tudo muito bom, bom!
Tá tudo muito bem, bem!
(Evandro Mesquita)
Atente para o fato de que o uso excessivo dos
recursos fáticos denota carência vocabular, já que destitui a mensagem de
carga semântica, mantendo apenas a comunicação, sem traduzir informação.
Exemplo:
— Você gostou dos contos de Machado?
— Só, meu. Valeu.
Função metalinguística
A função metalinguística visa à tradução do código
ou à elaboração do discurso, seja ele lingüístico (a escrita ou a oralidade), seja extralingüístico
(música, cinema, pintura, gestualidade etc. — chamados códigos complexos).
Assim, é a mensagem que fala de sua própria produção discursiva. Um livro
convertido em filme apresenta um processo de metalinguagem, uma pintura que
mostra o próprio artista executando a tela, um poema que fala do ato de
escrever, um conto ou romance que discorre sobre a própria linguagem etc. são
igualmente metalinguísticos. O dicionário é metalinguístico por excelência.
Exemplos:
— Foi assim que sempre se fez. A literatura é a
literatura, Seu Paulo. A gente discute, briga, trata de negócios naturalmente,
mas arranjar palavras com tinta é outra coisa. Se eu fosse escrever como falo,
ninguém me lia. (Graciliano
Ramos)
Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto
lutamos mal rompe a manhã.
(Carlos Drummond de Andrade)
(Carlos Drummond de Andrade)
A palavra
é o homem mesmo, estamos feitos de palavras. Elas são a única realidade ou, ao
menos, o único testemunho de nossa realidade.
(Octávio Paz)
(Octávio Paz)
“Anuncie seu produto: a propaganda é a arma do
negócio.” Nesse exemplo, temos a função metalinguística (a propaganda fala do
ato de anunciar), a conativa (a expressão aliciante do verbo anunciar no
imperativo) e a poética (na renovação de um clichê, conferindo-lhe um efeito
especial).
Função poética
Quando a mensagem se volta para seu processo de
estruturação, para os seus próprios constituintes, tendo em vista produzir
um efeito estético, através de desvios da norma ou de combinatórias inovadoras
da linguagem, temos a função poética, que pode ocorrer num texto em prosa ou em
verso, ou ainda na fotografia, na música, no teatro, no cinema, na pintura,
enfim, em qualquer modalidade discursiva que apresente uma maneira especial de
elaborar o código, de trabalhar a palavra. Exemplos:
Que não
há forma de pensar ou crer
De imaginar sonhar ou de sentir
Nem rasgo de loucura
Que ouse pôr a alma humana frente a frente
Com isso que uma vez visto e sentido
Me mudou, qual ao universo o sol
Falhasse súbito, sem duração
No acabar...
(Fernando Pessoa)
De imaginar sonhar ou de sentir
Nem rasgo de loucura
Que ouse pôr a alma humana frente a frente
Com isso que uma vez visto e sentido
Me mudou, qual ao universo o sol
Falhasse súbito, sem duração
No acabar...
(Fernando Pessoa)
Observe, entretanto, que o discurso desviatório
necessita de um contexto para produzir sensação estética, como no poema abaixo,
cujo nonsense é altamente poético no contexto de Alice no País das
Maravilhas:
Pois
então tu mataste o Jaguadarte!
Vem aos meus braços, homenino meu!
Oh dia fremular! Bravooh! Bravarte!
Ele se ria jubileu.
Vem aos meus braços, homenino meu!
Oh dia fremular! Bravooh! Bravarte!
Ele se ria jubileu.
Era
briluz. As lesmolisas touvas
Roldavam e relvian nos gramilvos.
Estavam mimsicais as pintalouvas
E os momirratos davam grilvos.
(Lewis Carrol, traduzido por Augusto de Campos.)
Roldavam e relvian nos gramilvos.
Estavam mimsicais as pintalouvas
E os momirratos davam grilvos.
(Lewis Carrol, traduzido por Augusto de Campos.)
Copiado e adaptado de http://www.coladaweb.com/redacao/funcoes-da-linguagem-e-comunicacao
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