quinta-feira, 29 de março de 2012

Quincas Borba de Machado de Assis - Resenha

  • Quincas Borba, de Machado de Assis

  • Quincas Borba foi desenvolvido originalmente no formato de folhetim para a revista A Estação e publicado no período de 1886 a 1891, sendo adaptado posteriormente para livro em edição do próprio Machado. 
  • Narrado em terceira pessoa
  • Considerado o mais objetivo dos romances de Machado de Assis;
  • Irmão da obra Memórias Póstumas de Bras Cubas, que inaugurou o Realismo Brasileiro e tem o mesmo dom ao trabalhar com a digressão, ironia e metalinguagem;
  • É um desdobramento da problemática e da narrativa de Memórias Póstumas de Brás Cubas;
  • Tem como personagem Quincas Borba que já fazia parte de Memórias Póstumas de Brás Cubas.(Amigo de infância do autor defunto, tinha decaído de abastado para mendigo, depois, recebendo uma herança, tornara-se rico e criador de uma filosofia, o Humanitas ou Humanitismo)

O Enredo 


A história começa em Barbacena e conta a vida de Pedro Rubião de Alvarenga, um ingênuo ex-professor de primeiras letras que se torna discípulo e enfermeiro de Quincas Borbas (você se lembrará dele caso já tenha lido Memórias Póstumas de Brás Cubas) que por sua vez lhe apresenta o Humanitas, filosofia que defende a ideia de que a sobrevivência do homem depende de saber vencer os outros, onde só os mais fortes sobrevivem enquanto os fracos são manipulados e aniquilados pelos mais espertos. Rubião nunca chegou a compreender ou assimilar a filosofia.
Borbas, muito doente, acaba falecendo em casa de Brás Cubas e Rubião se descobre o herdeiro universal do filósofo sob a condição de cuidar de seu cachorro, também chamado Quincas Borba que é um elemento curioso na obra. Pode-se dizer que o título refere-se a ele, num mecanismo que engana o leitor – o livro não é, na verdade, sobre o homem Quincas Borba. Pode-se, também, ver no animal uma extensão, dentro dos próprios ditames do Humanitas, do princípio do antigo dono. Tanto que algumas vezes o Rubião tinha preocupações com suas ações imaginando que o mestre havia sobrevivido na criatura. É uma observação que faz sentido, tanto no aspecto “espiritualista” como na própria estrutura literária da obra, pois o cão fica como uma suposta consciência do filósofo, a incomodar Rubião. 
De posse da fortuna e tendo aprendido de Quincas Borba alguns elementos de sua filosofia, o Humanitismo o ex-professor Rubião cai na mesma sanha da espécie humana: que quer fama e status, então decide começar vida nova e parte para o Rio de Janeiro, na viagem conhece Cristiano Palha e sua esposa Sofia. Desprovido de malícias, confessa sua riqueza repentina, despertando o olhar de rapina do marido, que rapidamente oferece sua casa e sua ajuda durante a estada do mineiro na capital. Rubião deixa-se levar pelas gentilezas do casal, muda para um palacete indicado por Palha (agora seu sócio) e se apaixona por Sofia, que lhe dispensa olhares e cuidados.
Depois de muitos favores e empréstimos ao casal, Rubião não é mais capaz de se segurar e declara seu amor a Sofia, que o recusa e conta tudo ao marido. Ao saber da corte de Rubião à sua mulher, Palha divide-se entre dois sentimentos: o ciúme que tem da mulher fá-lo pensar em atitudes radicais, mas sua dependência econômica de Rubião o leva a não querer ofender o sócio. Aconselhada a não ser brusca com uma pessoa tão preciosa, Sofia acaba assumindo uma postura ambígua para Rubião. Não atende a seus desejos, mas também não os nega enfaticamente, o que alimenta nele esperanças, geradoras de certas complicações.
Tonica, filha do Major Siqueira e que atingiu o posto perigoso de solteirona, vê no mineiro sua última tábua de salvação. Mas percebe no homem o interesse por Sofia, o que lhe desperta desejos éticos de denúncia que, no fundo, são mera sede de vingança e despeito. Mas não reage, apesar de toda a expectativa criada. No fim, sofre um processo de empobrecimento, ao mesmo tempo em que ela e seu pai são desprezados pelo casal Palha, em franca ascensão social. Acaba arranjando um noivo – um tanto desqualificado, mas, como dizia uma outra personagem, D. Fernanda, “um mau marido é melhor do que um sonho” – que termina por morrer dias antes do casamento (parece que o Major Siqueira e Tonica servem para mostrar na narrativa o lado dos perdedores, o que se contrapõe com o Humanitismo defendido por Quincas Borba, de acordo com o qual a opinião, o ponto de vista dos perdedores não conta). 

Em outro baile, um jovem de nome Carlos Maria passa a noite dançando com Sofia, o que deixa até no ar a possibilidade do surgimento de um adultério. Mas houve apenas a satisfação de dois egos: ela, por se sentir idolatrada; ele, por ter em suas mãos a mais bela mulher do salão. E tudo esfria, não surgindo mais nenhum laço forte além da dança. No entanto, duas personagens imaginaram que o episódio tinha gerado conseqüências mais terríveis. O primeiro foi Rubião, que se sente enciumado. Em sua mente, aceita dividir Sofia com Cristiano, marido. Mas não aceita com outro amante. A outra personagem é Maria Benedita, prima de Sofia, criada no interior, alheia à civilização, mas que desperta o desejo de evoluir graças ao interesse que sente por Carlos Maria. Sente-se, pois, arrasada ao pensar que a senhora Palha indignamente havia-lhe passado a perna.

Mas, se a menina mergulha na melancolia passiva, Rubião é um pouco mais ativo. Começa a ter delírios paranóicos. Imagina, com base numa história contada (e provavelmente inventada) por um cocheiro, que Sofia se encontrava com Carlos Maria num bairro distante. E o clímax é quando imagina ter como prova uma carta dela para o suposto amante, missiva que nem sequer abrira. Se tivesse, descobriria que era apenas um comunicado sobre a Comissão de Alagoas.

Tocou-se, pois, num passo importante da narrativa: a Comissão de Alagoas. Em primeiro lugar, esse episódio vai lembrar a morte da avó de Quincas Borba. Por causa do flagelo que houve na província nordestina, Sofia faz parte de um grupo de caridade composto de senhoras da alta sociedade da corte. Começa, pois, a fincar seu lugar ao sol, graças à desgraça alheia. É também por meio desse grupo que vai conseguir o casamento de Maria Benedita com Carlos Maria, parente de D. Fernanda, mulher muito conceituada. Torna-se nítido, nesse ponto, uma característica muito comum às narrativas machadianas: os mecanismos de favor. No Brasil da época de Machado de Assis, muitas vezes a ascensão social não era obtida por meio da competência. Entravam em campo tais mecanismos. Quem estava por baixo, geralmente gente da classe média, como profissionais liberais ou comerciantes (o caso do casal Palha), esforça-se para conquistar a simpatia de quem está por cima, ricos proprietários da classe alta (o caso de D. Fernanda).
 
O amor não correspondido por Sofia começa, aos poucos, a despertar a insanidade em Rubião. Louco, alienado e explorado pelos “amigos” acaba sendo internado num asilo de onde foge para voltar a Minas. Onde morre, em pleno delírio de grandeza, acompanhado de seu cão Quincas Borba e repetindo uma frase do Humanitismo: - "Ao vencedor, as batatas".
Tudo cai no esquecimento, na indiferença do tempo. Humanitas mais uma vez garante sua sobrevivência, dando vida ao forte, eliminando os mais fracos.

O romance traz uma linguagem bem acessível, de personagens cativantes e leitura fácil. Uma história com todas as características mais marcantes – pessimismo, ironia, senso de humor soturno – daquela que é conhecida como a segunda fase do escritor.
 O estilo de narração assume a posição de um escritor/narrador que faz comentários, externa opiniões, dirige-se diretamente ao leitor, uma manipulação que faz com que o leitor se sinta, de certa forma, parte da história, um leitor-personagem ou algo parecido.

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